Afinal as previsões racionais baseiam-se em evidências substantivas e os oráculos económicos têm um enorme impacto já que os medos e esperanças alteram os mercados. O receio do futuro vem de longe. O medo de tomar decisões erradas fez sempre parte da política. O imperador romano Nero, por exemplo, foi visitar o oráculo de Delfos. Este disse-lhe para ter cuidado com os 73 anos. Na altura Nero regressou a Roma confiante no futuro. Mesmo eufórico. Tinha 30 anos. Achou que até essa idade era invencível. Desprezou por completo a rebelião de Galba na Espanha. Este tinha 73 anos na altura. O destino estava traçado: Nero, confrontado com o seu isolamento suicidou-se com 31 anos. Portugal vai entrar em 2015 a pisar brasas. A dívida pública (e a privada) continua monstruosa. O défice não é tão domesticável como parece. O país continua a ser incapaz de decidir, por si, o seu destino. Era Ricardo Reis (o heterónimo de Fernando Pessoa) que escrevia: "Segue o teu destino/Rega as tuas plantas/Ama as tuas rosas/O resto é a sombra/De árvores alheias". As árvores alheias continuam a ser as que definem se temos sol ou sombra. A brutal descida dos preços do petróleo podem ajudar a alguma retoma. Os fundos que Jean-Claude Juncker quer distribuir podem ser um "pipeline" para ajudar o Governo. Isso não afaga a dívida impossível de pagar, nem o desemprego gritante e mascarado pelos estágios do Estado, nem a falta de investimento produtivo, nem os impostos asfixiantes que destruíram a classe média e os reformados, nem a falta de segurança e esperança. Contas de somar e, sobretudo, de subtrair que tornaram os portugueses mais tristes e com menos vontade de acreditar na classe política. Afinal a troika foi-se embora mas acabou por deixar todas as suas políticas. E algumas delas acabaram por ser aprofundadas.