O samba de Bolsonaro
O samba é o espelho da alma brasileira. Em 1986, a escola Império Serrano cantava nas ruas cheias de devoção carnavalesca: "Me dá, me dá/ Me dá o que é meu/ Foram vinte anos/ Que alguém comeu."
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Era uma crítica certeira ao regime militar que tinha tentado fechar o Brasil num quarto escuro. Em 2018, o Carnaval foi dos mais politizados de sempre: a prefeitura do Rio de Janeiro, a pretexto da austeridade, cortou os apoios às escolas de samba. E estas ficaram impedidas de manter a imagem luxuosa que as celebrizava. Estas responderam: criticaram Michel Temer, a corrupção, o racismo, a intolerância e a política. Sintetizavam o sentimento de um povo a quem tinham sonegado o futuro. Os anos do PT no poder (com muitos mais partidos a comer da mesma malga da Petrobrás) eram o alvo. Mas não só. Não se saberá o que acontecerá aos desfiles de samba em 2019, meses após a vitória de Jair Messias Bolsonaro. Mas há quem recorde que os primeiros sambas de enredo foram retratos da história oficial do Brasil. Com a intervenção directa de Getúlio Vargas, através do Departamento de Informação e Propaganda, o objectivo era exaltar as virtudes do trabalho e o nacionalismo, em desprimor da "malandragem". Este confronto de dois Brasis volta a estar em cima da mesa.
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