Uma Lisboa sem lisboetas
Não são as obras que desertificam uma cidade. São as tácticas e estratégias míopes de quem só olha para o curto prazo. E essa ideia de Lisboa está a matar a capital portuguesa.
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O turismo pode, por momentos, funcionar como magia de David Copperfield e iludir o que se está a passar. Mas as consequências, a prazo, são previsíveis. Lisboa está a ficar sem lisboetas. Os sinais são óbvios: as lojas históricas fecham, os serviços públicos desandam do centro. Mas eles são o reflexo de um outro, mais profundo, que danificará Lisboa para sempre. Durante anos as empresas foram trocando o centro de Lisboa pela periferia. Os benefícios fiscais eram importantes, e ninguém reparou que isso era um primeiro sinal. Agora é a pressão imobiliária (rendas estratosféricas, despejo legal de inquilinos, preço de casas só para estrangeiros, de brasileiros fugidos de Miami a franceses). Esta está a afastar aquilo que é central numa sociedade ou numa cidade, a classe média, do centro (já alargado) de Lisboa. Estão a deslocar-se para a periferia. Ou seja: Lisboa deixou de ser uma cidade de mobilidade, como são os centros modernos. Está a ficar petrificada pelo lucro rápido. Pagar-se-á muito caro este "novo-riquismo".
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