Doutor Relvas
Quem imagine que vou aqui repetir os ataques a Miguel Relvas, a propósito da sua malograda licenciatura, engana-se.
Quem imagine que vou aqui repetir os ataques a Miguel Relvas, a propósito da sua malograda licenciatura, engana-se. Pelo contrário. Não apreciando a personagem, nem partilhando as suas ideias, foi vítima de uma perseguição insana, dominada pelo ódio e pela vertigem de sordidez, ataques pessoais e vileza que se instalou em Portugal nos últimos anos. Não aprecio minimamente este tipo de comportamentos.
Cabe dizer que foi a direita que começou esta política de ódio, com a série de intrigas e ataques vis a José Sócrates. A extrema-esquerda aderiu e gerou-se a verdadeira paranóia nacional que abriu, aliás, o caminho do poder a Passos Coelho e companhia. Hoje essa mesma direita recebe a tempestade dos ventos que semeou. Portugal tornou-se insalubre.
Mas vamos a factos.
A atribuição da licenciatura a Miguel Relvas foi da inteira responsabilidade da Universidade Lusófona. O próprio cumpriu aquilo que lhe foi exigido. Foi pouco, quase nada, uma trapalhada, provavelmente uma ilegalidade, mas o canudo não foi forjado pelo aluno e sim concedido por professores e responsáveis da Universidade. Se alguém deve ser condenado pelo sucedido, são eles, que simularam exames e mostraram tanta ligeireza. E não certamente o beneficiário, cujo único reparo no processo reside numa simples questão. Por que carga de água quis ser doutor? Para que precisa ele de um prefixo tão irrelevante?
Neste e noutros casos, está sobretudo em causa a qualidade do ensino que é administrado nestas Universidades. Uma licenciatura não é nada, vale pouco. Muito menos certamente do que a propina que é paga. O próprio Manuel Damásio, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Lusófona, querendo justificar-se, afirmou recentemente que Relvas, ao menos, sabe escrever um texto para um jornal, coisa que a maioria dos licenciados da sua Universidade não é capaz de fazer. Haverá melhor confissão do logro que é este ensino? Aliás, a propósito, cabe dizer que este Damásio cada vez que abre a boca prejudica a Lusófona.
Tem, contudo, razão quando sugere que uma pessoa que chega a Ministro, independentemente da apreciação que se possa fazer da sua visão política e prestação, merece ter equivalência a uma licenciatura. É evidente que sim e por isso se têm desenvolvido sistemas de atribuição de equivalências em reconhecimento das capacidades profissionais adquiridas por mérito próprio. É, aliás, um mecanismo que vai ser cada vez mais desenvolvido no futuro, dados os novos contextos de aprendizagem e exercício profissional determinados, em grande medida, pelos novos saberes de base tecnológica. Já no campo oposto, temos uma maioria que se arrasta pelas Universidades três anos a fio, sem grande empenho e menor proveito, e a quem no final é atribuída uma licenciatura. Resta saber de quê e para quê? É vê-los por aí exibindo uma ignorância atroz e uma incompetência notória para realizarem as tarefas mais elementares.
Mas o mais importante desta história prende-se com o clima de ódio e maledicência que se instalou. As novas tecnologias, sobretudo, vieram revelar a multidão de raivosos frustrados que existem à solta. Nos comentários, blogues e e-mails, quase sempre a coberto do anonimato, exibindo portanto a sua evidente cobardia, imaginam porventura ter uma voz importante. Na verdade, trata-se de um murmúrio de rodapé, insignificante, desprezível, porque raramente revela mais do que uma mente débil. No mesmo plano, faz hoje moda nas manifestações o cartaz insultuoso e o apupo reles. O Facebook enche-se de caricaturas ofensivas, na maioria sem nenhuma piada e quando tem alguma é alarve. Não se vai longe num tal ambiente.
O combate político deve ser frontal e, se necessário, agressivo. É a vida das pessoas e o destino das sociedades que estão em causa. Mas a sua redução ao insulto e ao ódio só pode conduzir à degradação cívica e ao embrutecimento. A direita que iniciou este perigoso jogo sofre agora as consequências. Instigar o ódio demagógico e irracional é muito fácil, mas em nada ajuda uma sociedade a evoluir positivamente.
Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
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