Análise vs. execução estratégica
Começo a estar de acordo com todos os que preconizam, como destino único deste estudo, a sua apresentação à Comissão Europeia, para justificar as verbas que se vão lá buscar.
O meu professor, Charles O’Reilly, da Universidade de Stanford, ensinou-nos a diferenciar a análise da decisão estratégica, através de dois losangos, de compreensão quase intuitiva.
A análise estratégica implica, de acordo com este autor, o funcionamento harmonioso dum sistema que inclui os seguintes quatro subsistemas: análise do mercado, visão estratégica, focus na inovação e desenho do negócio.
Em contrapartida, a execução estratégica exige o funcionamento eficiente dum outro sistema, completamente diferente, nas áreas de conhecimento envolvidas, que inclui os seguintes quatro subsistemas: organização formal, talentos, acções críticas interdependentes e clima e cultura.
Este modelo explica, dum modo claro, os fracassos sistemáticos da economia portuguesa.
Nos últimos anos, têm-se desenvolvido vários estudos de análise estratégica, sobre a economia nacional, de razoável e boa qualidade intelectual.
Estes estudos, têm, no âmbito deste modelo, realçado as oportunidades de mercado para as empresas portuguesas, que permitiriam aumentar as exportações, uma visão estratégica europeia e atlântica, a necessidade do focus na inovação para melhoria da competitividade dos nossos produtos transaccionáveis e o desenho dum modelo económico e social para o país, coerente com este sistema.
O problema surge, sempre, na execução estratégica.
Já referi esta minha apreensão em relação ao trabalho do meu colega e amigo António Costa Silva, que se acentuou, após a apresentação do estudo, no passado dia 21 de Julho.
Após uma boa apresentação da análise estratégica realizada, metade da sala abandonou a cerimónia, sem paciência para ouvir o “painel de especialistas”, todos funcionários públicos, sem qualquer experiência empresarial.
A execução estratégica daquele plano passa, sobretudo, pelas empresas, as infra-estruturas são instrumentais para o nosso processo de desenvolvimento.
E, as deficiências nacionais, no âmbito dos quatro subsistemas atrás referidos, mantêm-se e foram ampliadas.
A organização formal de direcção e gestão deste programa estratégico já começou a mostrar as suas fragilidades.
Os talentos nacionais, que são poucos, não estão ao serviço deste processo de renovação, cansados de verem “boys” partidários, completamente ignorantes, em posições de direcção e de chefia.
As acções críticas interdependentes, entre os sistemas, educativo, de investigação, administração pública e empresas, continuam sem funcionar, com o enquistamento de cada um destes sistemas, que se mantêm fechados.
Não existe um clima para o desenvolvimento sustentável, nem uma cultura de competência, seriedade e de compromisso para resultados.
Começo a estar de acordo com todos os que preconizam, como destino único deste estudo, a sua apresentação à Comissão Europeia, para justificar as verbas que se vão lá buscar.
E é pena, porque a ser assim, continuamos com um país adiado.
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