A luz e a sombra
A luz que ilumina também produz a sombra que oculta. Esta não é a primeira crise de dívida da História, mas terá uma resolução mais complexa e demorada porque tanto as taxas de crescimento do produto como as taxas de inflação são agora muito baixas, não favorecendo o resgate da dívida pelo crescimento, nem a desvalorização da dívida pela ilusão monetária.
A FRASE...
"Portugal não cresce desde 2000. Durante mais de dez anos não crescemos, mesmo quando havia dinheiro e o Estado gastava não se conseguiu pôr o país a crescer. É legítimo que nos interroguemos sobre como vamos resolver este problema."
Daniel Bessa, em entrevista ao i, 7 de Dezembro de 2013
A ANÁLISE...
É visível, desde 2008, que as economias desenvolvidas das sociedades maduras – nos Estados Unidos, na Europa, no Japão – estão bloqueadas numa crise de dívida, com orçamentos de Estado pressionados pelo financiamento de políticas públicas que não anteciparam a evolução demográfica e os custos dos sistemas de saúde, com os balanços dos bancos a registar imparidades que restringem a actividade bancária enquanto não forem corrigidos os desvios entre o valor dos activos e o valor das dívidas que tinham esses activos como colaterais, com os agentes económicos sem motivação para investir onde não esperam obter retorno adequado para essas aplicações de capital, e onde todos estão resignados à equivalência entre a dívida de ontem e os impostos de hoje, o que implica que a dívida de hoje corresponda a ainda mais impostos amanhã.
A luz que ilumina também produz a sombra que oculta. Esta não é a primeira crise de dívida da História, mas terá uma resolução mais complexa e demorada porque tanto as taxas de crescimento do produto como as taxas de inflação são agora muito baixas, não favorecendo o resgate da dívida pelo crescimento, nem a desvalorização da dívida pela ilusão monetária. É o paradoxo da luz e da sombra: a dívida que foi contraída para estimular o crescimento é o que se traduz agora em aumento de impostos, em aumento de encargos financeiros e em impossibilidade de crescimento. E não se quis ver que o credor ocupa sem precisar de combater.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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