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Luís Marques Mendes
10 de Abril de 2022 às 21:29

Marques Mendes: "Há um mau começo do Ministro da Economia"

As notas de Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC. O comentador fala sobre o novo Governo, o debate do Programa de Governo, as eleições francesas e a guerra na Ucrânia.

O NOVO GOVERNO

 

  1. O debate do Programa de Governo foi um passeio para o PM. António Costa apareceu solto e bem preparado. A oposição está no estado em que está: o PCP e o BE ainda estão atordoados com a maioria absoluta; o PSD neste momento não existe; o Chega fez um número para a galeria; a IL, há que reconhecer, foi o único partido que tocou nos aspetos essenciais.

  1. Substantivamente, parte do debate foi marcado pelo anúncio do "pacote" de medidas para combater a subida dos preços. Há que dizer duas coisas:
  2. Primeiro: já não era sem tempo. Precisávamos de um conjunto articulado de medidas. Todas as medidas parecem certas e na boa direção: combater a subida do preço da energia, apoiar empresas e famílias vulneráveis.
  3. Segundo: estas medidas são necessárias, mas não resolvem todos os problemas da subida de preços das matérias-primas. Um exemplo: Plano de Recuperação e Resiliência. Vai ser impossível cumpri-lo, fazendo todos os investimentos previstos até 2026. De duas, uma: ou Bruxelas alarga os prazos previstos ou Portugal e outros países vão perder dinheiro da bazuca.

  1. Finalmente, há um mau começo do Ministro da Economia ao anunciar um novo imposto sobre as empresas. O Ministro mostra incoerência, impreparação e está errado. Incoerência porque em 2018 Costa Silva dizia: "Uma política que hostiliza as empresas e o lucro não cria condições amigas do desenvolvimento do país". Impreparação, a seguir. Não se anuncia um imposto ainda não estudado. Um exemplo: como se define o que são lucros exagerados? Depois, o Ministro está errado: impostos já há de mais. Portugal é, depois de Malta, o segundo País da UE com impostos mais altos sobre as empresas. O que deve ser feito é garantir que os lucros elevados sejam reinvestidos. Que promovam novos investimentos. Essa é que deve ser a prioridade.

 

POR QUE SOMOS ULTRAPASSADOS NA UE?

 

  1. O debate do Programa de Governo foi muito marcado pela questão de Portugal estar a ser ultrapassado no ranking do PIB per capita por vários países de Leste. Tão importante como constatar que estamos a perder é saber por que é que estamos a perder. Nos últimos cinco anos fomos ultrapassados por quatro países: em 2017, pela Estónia e Lituânia; em 2021, pela Polónia e Hungria. Mas o que é que, afinal, esses países têm de vantagem sobre Portugal? Onde é que estão melhor do que nós? Vejamos quatro indicadores fundamentais:
  • Exportações: em Portugal, o peso das exportações no PIB é de 42% (resultados de 2021). Na Polónia é de 60,9%; na Hungria é de 81,3%.
  • Taxa de IRC: em Portugal a taxa máxima de IRC (incluindo derramas) é de 31,5%. Na Polónia é de 19%; na Hungria é de 10,8%.
  • Qualificações: em Portugal, só 55% da população tem, pelo menos, o ensino secundário. Na Polónia, esse indicador é de 93,2%; na Hungria, de 85,6%.
  • Produtividade: Portugal tem uma produtividade que é apenas 73% da média europeia. O mesmo valor na Hungria; mas na Polónia a produtividade é maior, 84%.
  • Sinceramente, este era o debate que devíamos fazer em Portugal. O que estamos a fazer para melhorar os nossos indicadores?

  1. No entretanto, em termos de Regiões do país, os últimos dados conhecidos (2020) têm conclusões algo preocupantes:
  • Cinco das 7 Regiões de Portugal têm um PIB abaixo dos 74%; ou seja, abaixo da média nacional face à UE.
  • A região mais rica, Lisboa e Vale do Tejo, caiu e já está abaixo da média europeia. Em 2019 era a única região acima da média da UE.
  • A Região Norte continua a ser a região mais pobre de Portugal.

ELEIÇÕES FRANCESAS

 

  1. O mais provável é Macron ganhar estas presidenciais. Mas não vai ser um passeio, como da última vez. Para a opinião pública francesa, Macron não é o mesmo de 2017. E Marine Le Pen também não.
  • Primeiro: Marine Le Pen aproveitou o radicalismo do Sr. Zemmour para se moderar. Ela, que é de extrema-direita, parece hoje uma moderada.
  • Segundo: numa jogada de marketing, Le Pen abandonou os temas tradicionais da extrema-direita francesa (a imigração e o Islão), para se concentrar no que interessa aos franceses: a subida do custo de vida.
  • Terceiro: conseguiu evitar ser contaminada por Putin. Ela que tem relações antigas e fortes com o Presidente russo.
  • Finalmente, mais importante, Mácron já não tem o efeito de novidade e frescura que tinha em 2017. É visto hoje como o Presidente das elites, distanciado do povo. E a falta de resultados nas diligências que tem feito sobre a guerra na Ucrânia também não ajuda.

  1. Estas eleições são importantes para a França. Mas, são também essenciais para a UE. A eventual vitória de Marine Le Pen seria para a UE pior que o Brexit. Marine Le Pen seria dentro da UE um verdadeiro cavalo de Troia.
  • Putin ganhou com a vitória de Orban na Hungria. Mas a Hungria é a Hungria. Tem o peso que tem na UE.
  • Já a França é a França. Se Marine Le Pen ganhar é Putin que ganha. Aí sim, é um pesadelo para a UE. Nessa altura, Marine Le Pen vai minar a UE e Putin alcança o seu grande objetivo: dividir para reinar.

 

 ZELENSKY EM PORTUGAL

 

  1. Como era expectável, o Presidente Zelensky vai falar à AR. Em principio, na semana a seguir á Páscoa. Não tem novidade, porque ele tem estado em vários Parlamentos, na Europa e fora dela. Mas tem significado político. É a oportunidade de o povo português, através dos seus representantes, exprimir a sua solidariedade ao povo ucraniano.

  1. Como também era expectável, o PCP votou contra esta iniciativa. O partido tem esse pleníssimo direito. Mas há três questões que fazem muita impressão no comportamento do PCP:
  • Primeiro: que o PCP continue sem coragem para condenar a Rússia como país agressor da Ucrânia. A verdade é esta: há um agressor e um agredido. Ao não condenar a agressão, o PCP está a pactuar com a Rússia.
  • Segundo: que um partido como o PCP que combateu a ditadura de Salazar não tenha a coerência de combater igualmente a ditadura de Putin. Putin é um ditador e um criminoso.
  • Terceiro: que o PCP mantenha este comportamento mesmo depois das imagens brutais que provam crimes de guerra na Ucrânia. Isto já não é só teimosia ideológica do PCP. É também insensibilidade política.

O ESTADO DA GUERRA

 

  1. Politicamente a Rússia já perdeu esta guerra. Está isolada, tem a UE mais forte e a NATO reforçada e mais perto das suas fronteiras, com a adesão da Suécia e da Finlândia. Mas, do ponto de vista militar, também a dúvida está instalada: será que a Rússia vai mesmo ganhar a guerra? No início, há mês e meio, quase ninguém tinha dúvidas: era David contra Golias. A Rússia acabaria por vencer, sem apelo nem agravo. Agora, começou a instalar-se a dúvida. E os factos alimentam-na: a Rússia não tem ainda qualquer vitória e a resistência Ucraniana Ucrânia está altamente motivada.

  1. No entretanto, há algumas certezas adquiridas:
  • A Rússia retirou de Kiev. O próximo grande combate é no Donbass (Leste). Vão ser batalhas duras e feias. Para a Rússia, desespero é igual a destruição.
  • Segundo Macron, a Rússia quer celebrar vitória no dia 9 de maio. 9 de maio de 1945 foi o dia da capitulação da Alemanha nazi, que os russos evocam com grandes paradas militares.
  • O objetivo russo não é fácil de atingir. Militarmente, a Ucrânia está mais forte do que no início da guerra face ao reforço de armamento chegado do Ocidente.
  • O Ocidente faz "procissão" a Kiev para apoiar Ucrânia Depois dos Países vizinhos, foi agora a vez da Comissão Europeia e do PM Britânico. A Europa passou a acreditar na vitória da guerra.
  • "Milagre" na UE: há um mês a EU estava reticente com entrada da Ucrânia. Agora é prioridade. A grande mudança deve-se à força da opinião pública.
  • Sanções reforçadas, mas sem cortar o gás russo. Esta é grande fragilidade da UE: condena a guerra, mas ajuda a financiá-la, comprando o gás russo.
  • Rússia fora da Comissão de Direitos Humanos da ONU: a CPLP dividiu-se completamente. Só Portugal e Timor-Leste votaram a favor

O FUTURO DO PSD

 

  1. O futuro do PSD passa pela liderança de um destes dois homens: Luís Montenegro ou Jorge Moreira da Silva. São dois políticos de qualidade. Luís Montenegro apresentou oficialmente a sua candidatura. Numa declaração que teve clareza e ambição: clareza estratégica e ambição nos objetivos. Jorge Moreira da Silva deverá avançar na próxima semana.

  1. É mesmo urgente uma nova liderança. O PSD está literalmente em autogestão. É preciso um novo líder que ponha ordem na casa. Esta semana, no debate do Programa de Governo, houve erros crassos:
  • Primeiro erro: Rui Rio colocou-se a jeito para ser "bandarilhado" por António Costa. Quem está de saída não devia ser o protagonista do debate. Rio devia estar discreto e deixar o protagonismo para o seu líder parlamentar Paulo Mota Pinto.
  • Segundo erro: o governo quer mais impostos sobre as empresas. Ainda nem sequer se conhece a natureza do imposto, mas Rui Rio veio logo concordar com o Governo. Outro erro. Então não é o PSD que defende a redução de impostos sobre as empresas? A perceção pública é que tudo isto é uma contradição.
  • Terceiro erro: as declarações da deputada Mónica Quintela, dizendo: "Devíamos ter deixado que os funcionários públicos e toda a gente ficasse sem receber os salários… um mês, dois meses. Aprendiam, aprendia o PS". Enquanto houver afirmações destas, o PSD não volta a ganhar eleições. O PSD parece estar mesmo em roda livre.

 

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