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Pedro Oliveira - Dean da Nova School of Business and Economics
16 de Julho de 2025 às 10:15

As universidades e escolas de gestão são empreendedoras?

Se a inovação e o empreendedorismo são um motor essencial do desenvolvimento económico, a transferência de tecnologia das universidades para o mercado é um elo crítico da inovação.

Um estudo publicado recentemente (Redstone University StartUp Index 2025) analisou 905 universidades em 35 países que, combinadas, têm um budget anual de 250 mil milhões. O estudo considerou mais de 14.000 startups ligadas a fundadores alumni ou resultantes diretamente de spin-offs universitários e sugere que existe uma ligação direta entre as business schools e a criação de start-ups e empregos.

De acordo com este estudo, a Nova School of Business & Economics consegue um magnífico 4.º lugar no ranking das escolas de gestão mais empreendedoras da Europa com 52,7 start-ups criadas por 100 milhões de investimento. Data4Deals é um exemplo de uma empresa cofundada por um professor da Nova SBE, o Pedro Santa Clara.

Google, Microsoft, Dell, Cisco, Moderna, Biogen, Bose, Snapchat, Facebook, são apenas alguns exemplos de grandes empresas que “nasceram” na universidade. Feedzai, Critical Software, Sword Health são alguns exemplos portugueses.

Entende-se por universidade empreendedora aquela que integra o empreendedorismo na sua estratégia institucional e cujo currículo estimula a criação de spin-offs e start-ups por estudantes e professores, investindo em estruturas de apoio à inovação como incubadoras e estruturas de apoio à transferência de tecnologia e ao licenciamento de tecnologia.

Se a inovação e empreendedorismo são um motor essencial do desenvolvimento económico, a transferência de tecnologia das universidades para o mercado é um elo crítico da inovação. Um bom indicador para avaliar a comercialização de tecnologia desenvolvida em ambiente universitário é o número de patentes universitárias licenciadas e exploradas comercialmente por empresas.

Quando comparamos os EUA e a UE, os dados revelam realidades muito diferentes. Nos EUA, em 2021, foram executadas mais de 8.700 licenças de tecnologias universitárias, segundo dados da associação americana de profissionais de transferência de ciência e tecnologia (AUTM), envolvendo 196 instituições. Já na UE os dados mais abrangentes, recolhidos pela associação europeia congénere (ASTP), em 2019, apontam para cerca de 1.300 licenças, reportadas por 519 gabinetes de transferência de conhecimento. Ou seja, cada instituição nos EUA licencia, em média, cerca de 45 tecnologias por ano, enquanto na UE a média ronda as 3 licenças.

As razões para esta disparidade são múltiplas. Nos EUA, a Lei Bayh-Dole, em vigor desde 1980, permitiu que as universidades passassem a deter e a explorar a propriedade intelectual resultante de investigação financiada com dinheiros públicos. Esta medida não só profissionalizou os Technology Transfer Offices (TTO), como atraiu investidores e criou métricas de desempenho claras: número de licenças, receitas de royalties, start-ups criadas. A cultura norte-americana valoriza o empreendedorismo académico, tolera o fracasso e promove a mobilidade entre a academia e o setor privado. Por outro lado, na Europa, o cenário é fragmentado. Cada país adota regras diferentes sobre quem detém a propriedade intelectual e a cultura académica europeia continua marcada por alguma aversão ao risco e por carreiras rigidamente separadas entre ciência e indústria.

Estas diferenças evidenciam a necessidade de reformas estruturais na UE. Para reduzir esta lacuna seria essencial repensar as regras de propriedade intelectual, escalar o financiamento de risco para tecnologias emergentes, profissionalizar os gabinetes de transferência e promover uma cultura que valorize o empreendedorismo académico. Tudo isto poderia contribuir para ajudar na travessia do chamado “vale da morte”. O vale da morte é o caminho entre a descoberta científica e a sua aplicação comercial viável, uma fase marcada por elevado risco, em que muitas inovações promissoras morrem. A razão é que, embora o “projeto” demonstre potencial em ambiente laboratorial, ainda não foi suficientemente validado para atrair investimento privado ou interesse da indústria. A capacidade de uma universidade ou país de superar o “vale da morte” é, por isso, um fator determinante para transformar conhecimento científico em impacto económico e social.

O vale da morte é o caminho entre a descoberta científica e a sua aplicação comercial viável, uma fase marcada por elevado risco.

Poucos casos ilustram melhor o potencial da simbiose entre ciência e mercado do que o percurso de Robert Langer, professor do MIT, cofundador da Moderna e de mais de 40 empresas biotecnológicas. O seu trabalho redefiniu a ligação entre ciência, tecnologia, inovação, empreendedorismo e impacto humano, sendo um homem cuja coragem de desafiar o status o tornou num dos maiores expoentes do empreendedorismo tecnológico, a quem a Harvard Business Review chamou “Edison da Medicina”. Langer é membro do Advisory Board da Nova SBE, recebeu recentemente o Doutoramento Honoris Causa da UNL e foi Commencement Speaker na cerimónia de graduação dos mestrados da Nova SBE, perante uma audiência de mais de 5.000 pessoas.

A União Europeia possui universidades de classe mundial e financiamento público generoso, mas carece de quatro alavancas: 1) A burocracia excessiva é um entrave à inovação e ao empreendedorismo. Portugal e a UE beneficiariam da criação de regulação amiga da inovação e de ambientes regulatórios experimentais que facilitassem a introdução de produtos e soluções inovadoras no mercado; 2) Capital de risco alinhado com a ciência de early stage, combinando investimento público-privado e tolerância ao fracasso. O financiamento disponível é avesso ao risco e tende a focar-se em soluções tecnológicas já comprovadas. O financiamento disponível é avesso ao risco e tende a focar-se em soluções tecnológicas já comprovadas; 3) harmonização legal da PI nomeadamente regras claras e simples que reduzam a incerteza para investidores e investigadores; e 4) Profissionalização dos gabinetes de transferência de tecnologia universitários com competências em gestão de inovação e marketing tecnológico.

O caso de Langer mostra que, quando a academia derruba muros e abraça o mercado, a inovação acelera, beneficiando toda a sociedade. A Europa precisa de cultivar esse espírito e transformar ideias em impacto, antes que as próximas grandes invenções, curas ou tecnologias voltem a atravessar o Atlântico para se concretizarem em solo americano. Dito isto, a presença da Nova?SBE no top 5 das escolas de gestão mais empreendedoras da Europa demonstra que Portugal pode competir com os ecossistemas de inovação mais avançados.

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