Produtividade, num mês de feriados
O prometido é devido. No meu último artigo abordei o mundo do Trabalho, em concreto, os efeitos que tendências como a revolução tecnológica, a globalização, a fragilidade geopolítica, a incerteza económica e as próprias alterações demográficas provocam, em termos de instabilidade no panorama do emprego. E ficou a promessa de abordar a produtividade enquanto tema igualmente relevante no contexto do mundo do Trabalho.
Ao combinar o seu próprio inquérito sobre as expectativas de crescimento e declínio do emprego com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2024, o relatório sobre o Futuro do Trabalho do World Economic Forum (WEF), publicado em março de 2025, estima que, nos próximos cinco anos, sejam reconfigurados cerca de 92 milhões de postos de trabalho e criados cerca de 170 milhões de novos postos. Este facto representa uma rotatividade estrutural do mercado de trabalho da ordem dos 22% e o equivalente face a um aumento líquido do emprego de 7%, ou seja, 78 milhões de postos de trabalho, no universo observado.
Este é um cenário muito provável do mundo do Trabalho num futuro próximo. Contudo, igualmente determinante será a eficiência e o resultado do trabalho realizado, ou seja, falamos de produtividade. E neste âmbito os dados são igualmente impressionantes.
A edição de 2025 do Relatório sobre o Estado da Força de Trabalho da Gallup constatou uma queda no compromisso dos colaboradores pela primeira vez, nos últimos quatro anos. A principal conclusão do relatório deste ano foi um declínio global no envolvimento dos colaboradores com o seu trabalho e a organização que servem. A percentagem de colaboradores comprometidos caiu globalmente, para 21% (um em cada cinco) em 2024, de 23% no ano anterior, representando a primeira queda anual desde a pandemia, e traduzindo-se num custo estimado de 48 biliões de dólares para a economia mundial em perda de produtividade.
O estudo mostra ainda que os colaboradores se sentem desligados e, não é novidade que, em geral, como os colaboradores se sentem em relação ao seu trabalho e às suas vidas é sempre um forte preditor da resiliência e desempenho organizacional.
As razões de ser deste desligamento devem-se à combinação de múltiplos fatores como a pressão nas decisões em contextos de incerteza, a pressão nos custos, a escassez de recursos, reestruturações sucessivas, a dificuldade na fidelização de talento, a exigência de maior flexibilidade por parte dos colaboradores, a separação física entre os membros da equipa que cria distanciamento e não permite a proximidade que potencia a confiança, a autoridade, a amizade e, ainda, um grande cansaço físico.
Esta tendência está muito em linha com o declínio da avaliação do bem-estar pessoal ou da sua qualidade da vida que, não só diminui relativamente aos anos anteriores, como é agravada ao nível das funções de gestão nas organizações. Dois em cada três gestores consideram-se desmotivados e desligados da organização, o que não contribui para preparar um futuro disruptivo e a necessitar de lideranças entusiasmadas e entusiasmantes.
Todos sabemos que gestores desligados ou desmotivados são fortemente prejudiciais para as equipas e o seu desempenho. Estes gestores, líderes das equipas, são fundamentais para a concretização de qualquer estratégia. Muito (senão tudo) numa organização acontece dependendo do seu desempenho: empenho, moral, produtividade e atitudes que se revelam nas equipas. A razão de fundo é clara: de súbito, os desafios com que se confrontam atualmente fazem com que liderar e gerir se convertam numa missão extremamente complexa. Não basta ser bons profissionais, bons técnicos, bons a gerir recursos. Pede-se-lhes que compreendam novos temas que têm igualmente de gerir como: a IA, a diversidade e pertença, as equipas híbridas, a reputação corporativa, a sustentabilidade, o ESG, a pluralidade geracional e, por último, mas não menos relevante, que revelem excelentes competências de "coaching", que potenciam o desenvolvimento e liderança das suas equipas.
Por tudo isto, vale a pena recordar, desde logo a estes gestores, alguns princípios, aplicáveis universalmente e muitas vezes subvalorizados, relacionados com a produtividade e a liderança, sobretudo relacionados com estratégia tanto empresarial como pessoal. Os debates, em especial quando se trata de produtividade, focam-se muito vezes em táticas (que têm muitos méritos), mas as táticas são, na maioria das vezes, secundárias em relação à estratégia.
Quanto à produtividade, em primeiro lugar, não há produtividade sem um “para quê”. Somos ativos ou produtivos? A diferença está em se estamos a progredir em direção ao que nos propomos construir. Portanto, o primeiro princípio da produtividade é decidir o que é realmente importante.
Em segundo lugar, relembrar que qualquer decisão estratégica não pode ser tomada isoladamente, mas devem ser tomadas tendo em conta o panorama geral. O que fazemos, o que se faz na empresa, tem de ser consistente. Integridade e consistência nas decisões, faz com que tudo se encaixe e potencia eficiência e resultados.
Em terceiro lugar, manter o essencial como essencial. Há uma história de que um "coach" de produtividade, na década de 1920, deu ao milionário Charles Schwab um conselho simples: no início do dia, anotar as três coisas mais importantes a fazer e não passar para o segundo da lista sem terminar o primeiro. Consta que esse "coach" recebeu 25.000 $ algumas semanas depois (uma quantia bastante elevada para a época). Ou seja, não perder o sentido do que é o primordial fazer e fazê-lo efetivamente.
Quanto à liderança e para manter a regra dos 3 princípios, nomeio, em primeiro lugar, a necessidade de parar e refletir. Sobretudo refletir regularmente (a regularidade faz a diferença!) sobre os valores, as nossas prioridades e o que nos move no dia a dia. Qualquer feriado, pode ser um bom momento para tal e junho é um mês generoso em feriados. Aproveitemos.
Em segundo lugar, manter uma genuína autoconfiança, acreditando nas nossas capacidades de liderança e discernimento, mantendo-nos abertos à aprendizagem, a compreender temas novos e muito diversos, a entender as decisões que temos de tomar, os caminhos pelos quais deveremos avançar, as consequências, nomeadamente humanas, das diferentes alternativas com que nos confrontamos.
Em terceiro lugar, preservar a humildade, reconhecendo e valorizando as contribuições dos outros. Não sabemos tudo, ninguém sabe tudo e, como tal, há que procurar, agradecer e ponderar diferentes pontos de vista diversos.
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