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Ulisses Pereira - Analista Independente ulissespereira@hotmail.com
12 de Setembro de 2011 às 10:00

A atracção pelo abismo

Porque será que tantos investidores têm esta atracção pelo abismo? De onde vem esta vontade de ir comprar as acções que mais caem, as acções que mais sinais de fraqueza dão?

Porque será que tantos investidores têm esta atracção pelo abismo? De onde vem esta vontade de ir comprar as acções que mais caem, as acções que mais sinais de fraqueza dão? São estas as perguntas que, durante este ano, mais ecoaram na minha cabeça ao ver tantos investidores cometerem estes erros e assistirem, em sofrimento, ao afundar cada vez mais profundo dessas acções que compraram.

O caso do BCP é o exemplo mais flagrante destes todos. Por um lado, porque as desvalorizações são impressionantes e duram há muitos anos e, por outro lado, porque é uma acção tão popular que atrai a atenção dos investidores que, ao longo dos anos, foram investindo na acção, acreditando numa inversão que nunca chegou. Mas é importante sublinhar que o BCP não é um exemplo único. Toda a Banca tem caído violentamente e a esmagadora maioria das acções da Bolsa portuguesa tem seguido as suas pisadas. As raras excepções parece não entusiasmarem os investidores que preferem tentar apanhar facas a cair do que as acções que se mostram resistentes a esta crise.

Olhando para o BCP, ele tem outro problema típico: O facto de estar cotado a valores muito baixos. Não consigo quantificar o número de e-mails que, ao longo deste ano, fui recebendo com questões de investidores que compraram o BCP porque "está tão barato que é quase impossível cair mais. Está quase a zero, por isso está de borla!". Este género de raciocínio é um enorme erro. Quanto mais contacto os pequenos investidores mais tenho a certeza que se o BCP tivesse 100 vezes menos acções no mercado e estivesse a cotar acima dos 20 euros que muito menos teriam entrado nesta autêntica viagem aos infernos. E, no entanto, o valor da empresa seria o mesmo…

Recordo-me da dificuldade que tive, no Caldeiraodebolsa.com, em fazer crer àqueles que estavam a comprar BCP quando quebrou o 1 euro que o risco era grande. A mesma dificuldade que tive quando quebrou os 0,5 euros e que originava respostas deste estilo "A 0,5 já não dápara perder muito, está quase no 0." A verdade é que, desde aí, o BCP já perdeu mais de 50%! A ilusão das acções que estão a cotar a valores muito baixos é um dos grandes pecados dos investidores.

E a Cimpor? (Nesta altura imagino que muitos dos leitores se estão a interrogar a razão pela qual trouxe a Cimpor à baila neste artigo) É o exemplo oposto. Apesar das quedas violentas, neste Verão, da Bolsa portuguesa e dos mercados internacionais, a acção parece recusar-se a cair e qualquer correcção rapidamente traz compradores que fazem a acção recuperar. Será pelo facto uma boa parte do seu negócio estar no estrangeiro? Será pela luta que parece estar acesa pelo controlo da empresa? Não sei. O que sei é que a Cimpor parece não querer cair.

Quantos pequenos investidores têm investido na Cimpor? Calculo que poucos. E no BCP? Muitos. Estes são apenas dois exemplos de entre tantos que poderia ter escolhido. As acções que sobem parecem não interessar e os investidores preferem aquelas que caem muito porque acham que isso é garantia de uma recuperação grande no futuro. Infelizmente, a maior parte das vezes, o que acontece é o continuar do afundar até valores inimagináveis.

Estranha atracção esta pelo abismo.

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As acções que sobem parecem não interessar e os investidores preferem aquelas que caem muito porque acham que isso é garantia de uma recuperação grande no futuro.

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