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Georg Zachmann
25 de Agosto de 2011 às 11:58

O Sol pode salvar a Grécia?

O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, defendeu que o desenvolvimento de recursos energéticos alternativos poderia ser uma forma adequada da Grécia gerar crescimento económico.

O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, defendeu que o desenvolvimento de recursos energéticos alternativos poderia ser uma forma adequada da Grécia gerar crescimento económico. No papel, parece a solução perfeita para os problemas orçamentais do país: a Grécia, de acordo com Schäuble, poderia exportar electricidade solar para a Alemanha.

À primeira vista, aproveitar um recurso natural abundante (como é a energia solar) para equilibrar as contas nacionais parece uma ideia lógica, em particular tendo em conta que, no centro e no Norte da Europa, a electricidade é cada vez mais escassa e cara, após a Alemanha ter decidido, no início deste ano, eliminar, progressivamente, a energia nuclear. Mas será que Schäuble encontrou a solução mágica para baixar os preços da electricidade na Alemanha e, ao mesmo tempo, repor o crescimento económico na Grécia? Sim e não.

Primeiro, as más notícias: a electricidade produzida, actualmente, nas instalações fotovoltaicas está longe de ter um preço competitivo face às tecnologias convencionais. A "paridade de rede" ("grid parity") - o custo da electricidade produzida por um painel solar colocado no telhado de uma casa é igual à electricidade procedente de uma tomada na parede - só será alcançada em meados deste século.

Mesmo nessa altura, a energia solar vai continuar a ser mais cara do que a electricidade produzida de forma convencional, porque a "paridade de rede" exclui os custos de transmissão e distribuição, que, normalmente representam metade do preço final da electricidade. Além disso, mesmo que a energia solar fosse competitiva, exportá-la para a Alemanha não faria sentido económico: as linhas de transmissão não existem e as perdas de energia, que ocorrem quando a electricidade é transportada longas distâncias, são um desincentivo à sua construção.

De facto, os preços da electricidade na Alemanha não são, sistematicamente, mais elevados do que na Grécia, que, actualmente, é importador de electricidade. Assim, a electricidade solar grega apenas serviria para substituir a geração convencional mais cara na Grécia.

Nem mesmo a redução das importações de combustível (um quarto da electricidade grega é produzido através de petróleo e gás) teria um grande impacto na conta corrente grega. Na verdade, como é pouco provável que os painéis solares sejam produzidos no país, estes teriam de ser importados.

Em poucas palavras, o problema é que a produção de electricidade solar não promete grandes benefícios. Exige uma grande quantidade de capital e geraria poucos postos de trabalho (para a montagem dos painéis). Mesmo que a Grécia fosse capaz de ser excedentária na electricidade solar, as exportações gerariam poucas receitas, já que as empresas e os países não conseguem ter vantagens competitivas devido à tecnologia "standardizada". Assim que a energia solar se tornar competitiva na Grécia, outros países com níveis semelhantes de irradiação (Espanha, Itália, Portugal, Bulgária, etc.) vão entrar no mercado. Isto vai aproximar os preços da electricidade dos preços de produção, à medida que a capacidade de gerar energia solar na Europa se aproximar da procura de electricidade.

Mas, mesmo que desenvolva sistemas fotovoltaicos em larga escala, a Grécia não pode esperar tornar-se na Arábia Saudita da energia solar. Ainda assim, Schäuble está certo ao afirmar que faz mais sentido produzir energia solar na Grécia do que na Alemanha. De facto, o apoio alemão à energia solar passa pela redução dos custos dos painéis solares, que é a principal justificação para pagar elevados subsídios (cerca de 200 euros por MWh, o que compara com os actuais preços da electricidade: 55 euros por MWh).

Naturalmente, a redução do custo não depende do local onde o desenvolvimento tem lugar: usar o dinheiro alemão para apoiar o desenvolvimento da energia solar na solarenga Grécia seria mais eficiente do que usá-lo para apoiar o desenvolvimento desta energia na nublada Alemanha. Um sistema fotovoltaico instalado na Grécia poderia cobrir uma grande percentagem dos custos e, assim, exigir menos subsídios.

A melhor forma de garantir que o dinheiro alemão e o sol grego apoiam o desenvolvimento da energia solar seria a implementação de um "sistema de certificado verde" europeu. Com este sistema, todos os fornecedores de electricidade europeus teriam de garantir que uma percentagem da electricidade que vendem é originária de fontes renováveis. As metas de cada fornecedor poderiam variar consoante o potencial de cada país para desenvolver as energias renováveis.

Os países mais aptos para desenvolver energias renováveis (como a Grécia) poderiam depois vender certificados aos países que mais precisam (como a Alemanha), tornando o apoio alemão a estas energias mais barato, ao mesmo tempo que gerava receitas na Grécia sem comprometer o desenvolvimento das energias renováveis. Mas ninguém deve esperar encontrar uma mina de ouro solar.

Georg Zachmann, investigador no "think tank" Bruegel, desempenhou cargos no Ministério das Finanças da Alemanha e no Instituto de Pesquisa Económica Alemão (DIW).

© Project Syndicate, 2011.

www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Luísa Marques

© Project Syndicate, 2011.

www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Luísa Marques

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