O embargo petrolífero da OPEP de há 40 anos
Há 40 anos, os países não só suportaram o impacto económico imediato do embargo da OPEP como também aproveitaram o potencial da consequente escassez de petróleo para fomentarem a inovação
Há 40 anos, os Estados Unidos e grande parte da Europa aprenderam duras lições sobre a sua perigosa dependência dos combustíveis fósseis. A seguir à vitória de Israel na Guerra do Yom Kippur, os membros árabes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) anunciaram um embargo petrolífero aos apoiantes de Israel. Os países desenvolvidos, confrontados com um súbito corte de uma fonte de energia principal e com a escalada dos preços do crude em todo o mundo, sentiram-se impotentes.
No entanto, como se provou, os países desenvolvidos tinham opções para reduzirem a sua dependência do petróleo árabe. Eles apenas não reconheceram – ou não lhes interessou reconhecer – a necessidade de uma acção até a OPEP os colocar perante essa situação.
Enquanto os consumidores esperavam em longas filas – chegando mesmo a confrontarem-se fisicamente – para encherem os seus depósitos com combustível, os governos tentavam incentivar soluções inovadoras, como, por exemplo, elevar os requisitos de eficiência para os automóveis e determinados electrodomésticos, como os frigoríficos. Em 1977, os Estados Unidos criaram o Departamento de Energia (DoE); um ano depois, promulgaram a Lei Nacional da Energia, que utilizava ferramentas como a regulação industrial e incentivos fiscais de modo a promover a eficiência dos combustíveis e as energias renováveis.
Estes esforços traduziram-se em melhorias consideráveis na eficiência energética. De 1973 a 1985, o consumo de energia por dólar do PIB nos Estados Unidos diminuiu em 28% - cinco vezes mais depressa do que nos 25 anos anteriores, segundo o Departamento norte-americano de Energia.
Contudo, a correspondente diminuição da procura levou a que os preços do petróleo atingissem níveis muito baixos em 1986, dando lugar a uma nova era de energia barata. Isso facilitou duas décadas de expansão económica, ao mesmo tempo que reduziu a pressão sobre os governos no sentido de aproveitarem a dinâmica do progresso com vista a uma maior eficiência energética.
Mas os preços do petróleo não reflectem os custos reais do consumo de combustíveis fósseis. Além dos custos económicos e humanos das guerras travadas para manter fontes fiáveis de petróleo, existem os elevados custos – que deverão aumentar substancialmente nos próximos anos – associados às alterações climáticas induzidas pelo Homem.
O Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), recentemente publicado, fornece mais provas de que estão a ocorrer as mudanças climáticas provocadas pelo Homem. As contínuas emissões de gases com efeito de estufa, à escala massiva a que se assiste hoje em dia, poderão ter consequências devastadoras, com episódios climáticos mais frequentes e mais intensos.
Para se inverter esta tendência, é preciso tomar medidas urgentes. Tal como na década de 1970, a inovação é a chave para se conseguirem soluções eficazes. No entanto, ao contrário do que sucedeu há 40 anos, não se pode esperar que sejam os governos a fomentar o progresso.
Nos últimos anos, os governos demonstraram claramente a sua falta de vontade para implementar o tipo de acção regulatória e de políticas corajosas necessárias para travar as alterações climáticas. Com efeito, desde que os líderes mundiais não conseguiram chegar a um acordo sobre alterações climáticas na conferência COP 15 em Copenhaga, em 2009, a questão manteve-se em segundo plano. Os responsáveis pelas políticas concentraram-se, em vez disso, em conter os efeitos colaterais da crise económica global. O recente impasse orçamental nos Estados Unidos só veio reforçar esta abordagem. Apesar de muitos poderem receber com agrado soluções verticais, como as que surgiram nos anos 70, é pouco provável que assistamos a isso no futuro previsível.
Felizmente, há outro caminho. A inovação fomentada pelas empresas e as soluções baseadas no mercado podem impulsionar uma decisiva mudança global, no sentido de se passar de uma enorme dependência dos combustíveis fósseis para sistemas mais eficientes de energia renovável.
A análise do Instituto Rocky Mountain intitulada Reinventing Fire [Reinventando o fogo] mostra que um futuro com estas características é possível, oferecendo estratégias impulsionadas pelo mercado para fornecer energia a uma economia norte-americana que será 158% maior em 2050 – sem a dependência do petróleo, do carvão ou da energia nuclear. Uma acção rápida e decidida para construir edifícios mais eficientes em matéria de energia, conceber automóveis que exijam pouco ou nenhum combustível fóssil e aumentar a percentagem de energia renovável no fornecimento de electricidade poderá garantir que esse mundo substancialmente mais quente e menos prazeroso de 2050 para o qual nos alerta o IPCC nunca se materializará.
A nossa subsistência, já para não falar da subsistência das gerações futuras, não deveria estar refém da nossa dependência actual dos combustíveis fósseis. Há 40 anos, os países não só suportaram o impacto económico imediato do embargo da OPEP como também aproveitaram o potencial da consequente escassez de petróleo para fomentarem a inovação. Neste momento, o mundo precisa do mesmo tipo de acção corajosa – mas, desta vez, a solução terá de vir do mercado.
© Project Syndicate, 2014.
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Tradução: Carla Pedro
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