Níveis de tolerância do BCE deverão ser mantidos em segredo
Ainda persistem vários pontos de desacordo em Frankfurt sobre como pode e deve o BCE intervir para evitar que os mercados financeiros cobrem taxas insustentáveis a países do euro.
Esse intervalo dará maior discricionariedade ao BCE na hora de ponderar compras de dívida de um país do euro, e não deverá ser comunicado ao mercado, devendo ser mantido em absoluto sigilo para evitar fornecer munições aos especuladores.
A informação vem esta quinta-feira no jornal alemão “Die Welt” que, sem citar fontes, refere que essa é a estratégia de actuação que tem mais apoios no seio do BCE, mas que nenhuma decisão foi até agora tomada, porque subsistem dúvidas sobre se será a mais acertada, designadamente a não-comunicação ao mercado dos valores das “yields” tolerados pela autoridade monetária.
Espanha e Itália, pesos pesados do euro, estão desde há longos meses sob pressão dos mercados, com as taxas de juro no secundário a rondarem os 6% e 7% nos prazos a 10 anos. Ambos têm-se batido para que o banco central tenha um papel mais activo no sentido de lhes aliviar as condições de financiamento, até porque a Zona Euro não dispõe de recursos minimamente suficientes para os financiar na íntegra durante alguns anos, dispensando os mercados financeiros, como está a ser feito com Portugal, Irlanda e Grécia.
Madrid e Roma queixam-se de que os mercados de dívida estão a cobrar-lhes uma factura pesada devido ao risco de implosão do euro, elevando os seus custos de financiamento a níveis incomportáveis e sem aderência à realidade económica e financeira de ambos os países.
Esse argumento foi abertamente aceite pelo presidente do BCE quando, no início de Agosto, Mário Draghi se referiu ao “receio de reversibilidade do euro” enquanto elemento que estará por detrás dos “prémios excepcionalmente elevados” cobrados a alguns países do euro.
Desde então, várias questões críticas têm persistido em aberto. Que nível (“yield”) e/ou diferença (“spread”) face à taxa de juro alemã (referência de estabilidade no euro) deve desencadear a intervenção dos fundos europeus (MEE), e indirectamente do BCE? Quem e como decide? Devem (e, se sim, como) ser ajustados esses parâmetros em função do país que é socorrido? Devem esses níveis de tolerância ser conhecidos do mercado? Se o forem, não estará o BCE a dar mais munições aos especuladores? Estas são perguntas que continuarão a suscitar respostas diversas em Frankfurt.
Espera-se que a nova estratégia de intervenção do BCE seja acordada durante o mês de Setembro, altura em que Espanha poderá ser forçada a pedir um pedido de auxílio para garantir parte das suas necessidades de financiamento, em paralelo ao empréstimo (já aprovado) de 100 mil milhões de euros destinados à banca.
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