Segundo resgate não retira Grécia do cenário de incumprimento
Os mercados estão a reagir de forma negativa ao acordo, devido às dúvidas que este seja suficiente para colocar a Grécia no caminho de uma situação sustentável de redução de dívida. É que a perspectiva para a economia é sombria e nesse cenário o incumprimento e a saída do euro volta a parecer inevitável.
Esta dúvida reflecte-se no comportamento dos mercados accionistas europeus, que estão em queda, mesmo apesar de uma maratona negocial de mais de 13 horas ter levado os ministros das finanças europeus a aprovar um segundo programa de ajuda a Atenas, no valor de 130 mil milhões de euros.
Este acordo permite que a Grécia cumpra as obrigações com os seus credores no curto prazo, quando se temia que pudesse entrar em incumprimento já no mês de Março, quando vence uma emissão obrigacionista de 14,5 mil milhões de euros.
Os privados aceitaram perdoar 53,5% do valor nominal das obrigações detidas em carteira, acima dos 50% inicialmente exigidos, e o BCE irá “devolver” os lucros que obterá com a compra de dívida grega. Duas medidas fundamentais para que a Grécia possa baixar o fardo da dívida pública, actualmente em 160% do PIB, para uns “sustentáveis” 120,5% do PIB em 2020.
É aqui que entram as dúvidas dos investidores, que não acreditam neste cenário, uma vez que a Grécia está em recessão profunda, não será tão cedo que regressará a um crescimento económico sustentado e além disso está à beira de eleições e vive dias de forte contestação social.
Um estudo da troika, que serviu ontem de base às negociações em Bruxelas, admite mesmo que apesar do perdão de dívida, equivalente a 107 mil milhões de euros, a Grécia chegará a 2020 com uma dívida de 160% do PIB, caso as coisas corram mal e Atenas não implemente as reformas estruturais com que se comprometeu.
Para receber este segundo resgate, o Governo grego aprovou fortes medidas de austeridade, que ameaçam agravar a quebra da economia: o PIB deverá recuar em 2012 pelo quinto ano consecutivo e já acumula uma quebra acima de 11% desde 2008. O empréstimo de 130 mil milhões de euros ao país não contempla medidas para estimular o crescimento, pelo que os economistas antecipam vários anos sem crescimento na Grécia.
“Um novo acto num longo drama”
Deste modo, no dia em que a Grécia assegurou o segundo resgate, os economistas já especulam que o país não será capaz de pagar as suas dívidas no longo prazo. “A Zona Euro fez o seu melhor para assegurar que a Grécia vai cumprir as suas promessas, mas há uma margem considerável para o país andar para traz na redução do défice”, afirma à Bloomberg o analista britânico Davil Miller.
“O perigo de a Grécia cair numa depressão económica e ter que entrar em ‘default’, ou sair do euro, permanece substancial”, reforça Christian Schulz, economista do Berenberg Bank, citado pela mesma agência de notícias.
A chave para o segundo programa de ajuda à Grécia está na capacidade da economia crescer. Isso mesmo assinalou Antonis Samaras, provável próximo primeiro-ministro, uma vez que lidera as sondagens para as eleições de Abril. “Sem a recuperação e crescimento da economia, nem mesmo as metas orçamentais mais imediatas podem ser cumpridas, quanto mais a dívida pública ficar sustentável no longo-prazo”, afirmou o líder da Nova Democracia.
O ministro das Finanças sueco, citado pela Reuters, também alinha pelos que defendem que o acordo de hoje é um mero passo num caminho tortuoso para Atenas. “O que está feito é um significativo passo em frente. Mas claro que os gregos permanecem presos na sua tragédia. Este é um novo acto num longo drama”, disse Anders Borg .
Jennifer McKeown, economist da Capital Economics adianta que “as medidas de austeridade tem que ser implementadas com uma monitorização crescente por parte da troika (…) o que ameaça uma recessão mais profunda”, pelo que “existe o risco de uma saída do euro mais para o final deste ano”.
“Semeamos o vento e agora estamos presos num turbilhão”, afirmou Vassilis Korkidis, responsável máximo de uma confederação patronal grega, acrescentando que o novo resgate “está a dar-nos tempo e esperança em troca de um preço muito elevado”, pois exige “fortes medidas de austeridade que nos vão manter numa longa e profunda recessão”.
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