Fixar tecto máximo de preços? "É uma ilusão", diz presidente da Mercadona
Fixar os preços dos produtos não só é "uma ilusão", como é "irrealizável", afirmou o presidente da Mercadona, Juan Roig, em reação à possibilidade que está a ser estudada pelo Governo português de estipular um tecto nos bens alimentares nos supermercados.
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Na conferência de imprensa de apresentação dos resultados, esta terça-feira, realizada em Valência, com transmissão direta online, muito marcada, de resto, pela subida dos preços dos bens alimentares, tanto em Portugal como em Espanha, o líder da retalhista sinalizou que "todos gostariam que baixassem", mas lembrou que querer não é poder: "Dependemos da oferta e da procura. Ninguém pode influir".
Juan Roig admite que "possam ser feitas algumas coisas" para propiciar uma descida dos preços, como reduzir a qualidade dos produtos, algo que rejeita fazer. "Não vamos baixar os preços dos produtos artificialmente", vincou.
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No ano passado, a Mercadona diz ter sofrido um agravamento de 12% nos custos e repercutiu 10% nos preços de venda ao público, uma diferença de dois pontos percentuais que equivaleu "a 600 milhões de euros" que foi possível acomodar designadamente graças "à eficiência de custos e produtividade", que aumentou 7% face a 2021, que permitiram, em conjunto, uma poupança na ordem dos 375 milhões de euros.
A retalhista garante que o aumento dos preços dos produtos ao consumidor era inevitável, dado que estava entre a espada e a parede: se não subisse o preço ficava sem o produto na prateleira e causaria "um desastre" na cadeia de abastecimento. Juan Roig deu o exemplo do tomate, que encareceu 50% depois de a guerra na Ucrânia ter feito disparar os preços do gás, e o da carne de porco, cujo valor subiu mais de 85% num ano devido à forte procura por parte da China.
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"O que acontece no mundo afeta-nos, desde a guerra na Ucrânia, aos preços da energia, passando pela gripe aviária ou pela quebra na produção de porco e a subida da procura", apontou.
"Queremos baixar os preços mas isso depende de muitos fatores", realçou, dando conta de que, todos os meses, "inspeciona" as variações e que, desde o início de março, por exemplo, a Mercadona desceu os preços de 160 produtos e subiu o de 50.
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Baixar o preço do carrinho de compras é, aliás, um dos objetivos para este ano, diz Juan Roig, afirmando que "desde há muitos anos que a inflação não era determinante para nada", embora sem traçar metas.
A Mercadona fechou o ano passado com o aumento de 11% das vendas consolidadas para 31.041 milhões de euros (30.304 milhões correspondem à faturação da empresa em Espanha e os restantes 737 milhões de euros em Portugal), com "muito de inflação", sublinhou Juan Roig. Do total, 540 milhões de euros foram faturados através das vendas "online", especificou o mesmo responsável.
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A subida dos gastos (em mais de 500 milhões em 2022) cortou a margem da empresa em 0,6 pontos, o que se traduziu "numa das mais baixas rentabilidades da sua história", correspondendo a 0,025 euros de lucro por cada euro vendido, face aos 0,027 euros de 2021. O lucro líquido da Mercadona atingiu assim 718 milhões de euros, refletindo um aumento de 5% comparativamente a 2021.
Já a contribuição tributária da cadeia de supermecados para os cofres públicos de Portugal e Espanha foi "histórica", subindo 12% em 2022 para 2.263 milhões de euros.
Em 2023, a Mercadona prevê faturar 32.000 milhões de euros, ou seja, sensivelmente mais 3% do que em 2022, investir 1.100 milhões de euros, criar 1.000 postos de trabalho e fechar com um lucro líquido idêntico ao do ano passado.
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A Mercadona conta com 1.676 supermercados (incluindo 39 em Portugal) e emprega 99 mil colaboradores (incluindo 3.500 em Portugal).
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