Nvidia pode encaixar até 15 mil milhões de dólares na China com a venda de chips
Analistas apontam para 20 mil milhões de dólares de receitas totais no país, já este ano, com o levantamento das restrições na exportação da linha de chips H20.
- 2
- ...
A Nvidia prepara-se para um ciclo de crescimento na China, depois de ter recebido luz verde da administração Trump para retomar as exportações dos chips H20, suspensas em abril, num gesto que apanhou Wall Street de surpresa. A expectativa de recuperação de receitas levou o título a novos máximos históricos esta semana, alimentando o otimismo dos investidores num momento de tensão constante entre Washington e Pequim.
De acordo com projeções de analistas das empresas de serviços financeiros Stifel, Bernstein e William Blair, a Nvidia poderá arrecadar entre 10 mil milhões e 15 mil milhões de dólares (entre entre 8,64 e 12,96 mil milhões de euros ao câmbio atual) em vendas à China só na segunda metade do ano, elevando as receitas totais no país até 20 mil milhões no atual ano fiscal, que termina em janeiro de 2026, de acordo com o Yahoo Finance. No ano fiscal anterior, a tecnológica somou 17 mil milhões no mesmo mercado.
Segundo Ruben Roy, da Stifel, haverá uma “cadência acelerada de compra dos H20 por clientes chineses” a partir do segundo semestre, o que levou o analista a rever em alta o preço-alvo da ação de 180 para 202 dólares. Ainda assim, alerta que a capacidade de fabrico da TSMC, fabricante por contrato da Nvidia, continua “apertada”, o que poderá limitar o potencial total de vendas.
Ações em máximos e receio de concorrência atenuado
Esta reviravolta ocorre apenas semanas depois de a Nvidia anunciar perdas de 2,5 mil milhões no primeiro trimestre e projetar mais 8 mil milhões de dólares de prejuízo no segundo trimestre devido ao bloqueio das exportações. A empresa chegou também a registar um “write-down” de 4,5 mil milhões em inventário acumulado.
Com a retoma das vendas, a empresa poderá não só recuperar parte do prejuízo como também proteger a posição no mercado chinês, evitando que rivais como a Huawei capitalizem com o vazio deixado pela ausência da Nvidia. Stacy Rasgon, da Bernstein, salienta que a proibição dos H20 “foi desnecessária e, francamente, algo sem sentido”, uma vez que o desempenho destes chips já se encontrava abaixo de alternativas disponíveis localmente.
Mesmo com bloqueios externos, as empresas chinesas têm desenvolvido capacidade de computação de inteligência artificial para preencher o vazio deixado por empresas como a Nvidia. No deserto de Xinjiang, está a ser construído um megaprojeto de centro de dados para treino de IA com o apoio do Estado chinês e que pretende rivalizar com as gigantes norte-americanas.
Trump suaviza postura enquanto Huang reforça presença em Pequim
O recuo na proibição acontece numa altura em que o CEO da Nvidia, Jensen Huang, faz a sua segunda visita a Pequim este ano, dias depois de ter reunido com Donald Trump na Casa Branca. Uma coincidência com peso político, num momento em que os EUA tentam equilibrar segurança nacional e competitividade industrial.
Apesar da proibição inicial, Huang sempre defendeu que o mercado chinês representa um potencial de 50 mil milhões de dólares só em IA e que os bloqueios comerciais não travarão o avanço da China, apenas abrirão espaço para a concorrência, um argumento também usado por vários analistas de mercado.
Além disso, vários especialistas alertam para a permeabilidade do mercado chinês, no qual a Nvidia continua a ter uma forte presença indireta. Embora a China represente oficialmente 13% da faturação da empresa, estimativas apontam para que 25% a 40% dos seus chips acabem nas mãos de utilizadores chineses, muitas vezes através de reexportações ou contrabando.
A possibilidade de retomar vendas com licenças especiais pode ser vista como um sinal de abertura no conflito tecnológico entre as duas potências, mesmo que parcial e temporário. De acordo com a Bernstein, o regresso da Nvidia ao mercado chinês reduz o risco de perdas estruturais mais profundas e de um realinhamento completo da cadeia de valor global em IA.
Se se confirmar o cenário otimista traçado pelos analistas, este poderá ser um momento de viragem num conflito comercial que tem afetado tanto empresas norte-americanas como a estratégia digital da China. No entanto, tudo dependerá da velocidade com que forem emitidas licenças, encomendadas peças, produzidos chips e enviados os lotes.
Mais lidas