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Uma rotunda de violentas frustrações

Eram 17 quilómetros de protesto. Pretérito imperfeito, por a marcha terminar pouco depois. No mesmo local, todos os grandes marcos de um dia. Na Rotunda do Relógio, o tempo corre contra os taxistas.

10 de Outubro de 2016 às 20:36

Queria-se pacífica a marcha de protesto. Contra as plataformas Uber e Cabify, contra o Governo e uma lei "atabalhoada". A manhã aproximava-se do seu fim quando tudo caiu por terra.

cotacao Vamos ficar hoje e amanhã se for preciso. Vamos montar uma tendas. Enquanto não houver essa resposta, não saímos daqui. Carlos ramos Presidente da Federação Portuguesa do Táxi

Primeiro ovos lançados a um carro (alegadamente) da Uber junto a uma bomba de gasolina, depois a tentativa de fechar o acesso ao aeroporto. Provocações, palavrões, desorientações. A polícia teve de agir. Três pessoas detidas, duas entretanto libertadas.

E aí, o destino final mudou: a Assembleia da República transformou-se na Rotunda do Relógio. "Vamos ficar aqui por tempo indeterminado", confirmou Florêncio Almeida da ANTRAL. O protesto tinha um novo centro. Polícia de um lado, taxistas do outro. Face a face, com direito a bala de plástico e gás. "Não houve porrada nenhuma. Foi a polícia que não nos deixou manifestar livremente". As forças de segurança transformaram-se no bode expiatório.

Tirando um carro da Uber vandalizado, as aplicações de transporte quase parecem ter passado ao lado da agitação. Rápidas aparições mediáticas nas televisões para mostrar que compreendem o protesto e que é urgente avançar com este processo de regulação. A Cabify admitiu mesmo que gostaria de estar mais envolvida.

Voltar sem nada

"Exigimos que venha alguém aqui [do Governo] falar connosco", gritou Florêncio de Almeida. Acabou por ser ele, juntamente com o líder da Federação Portuguesa do Táxi (FPT), Carlos Ramos, quem teve de se deslocar. Destino: Ministério do Ambiente.

Os ânimos acalmaram com os estômagos vazios perto da hora de almoço e a incerteza. No ministério de João Matos Fernandes, a solução não chegou. O anúncio seria feito pelos responsáveis já o relógio passava das 16:00 na rotunda de acesso ao aeroporto.

O entusiasmo deu lugar ao desalento. "Vamos ficar hoje e amanhã se for preciso. Vamos montar umas tendas", contrariou Carlos Ramos. Seguiram-lhe o exemplo. Sem um horizonte temporal, como prometido. "Não saímos, não saímos". Querem ficar até que sejam ouvidas duas "preocupações fundamentais: o contingente e a paragem dos ilegais". "Enquanto não houver essa resposta, não saímos daqui", reforçou o líder da FPT. A carrinha de caixa aberta para ser transformada em palco chegou. Aí, seriam também servidas sopas durante a noite.

Calmas temporárias

Quando o sol se começou a pôr, corpos vencidos pelo cansaço vão-se acumulando na mesma rotunda. Sabem que só unidos conseguirão levar a luta a uma boa praça, diferente daquela que deixaram vazia esta segunda-feira, 10 de Outubro. Esperavam-se seis mil, foram só quatro mil, segundo as contas da FPT.

A acalmia foi temporária. Um homem, que não era taxista cai do viaduto por cima do centro do protesto. Tinha-se pendurado. Os taxistas voltam a focar-se na polícia, por não ter agido a tempo.

A tensão mantém-se, os reboques espelham-na. A PSP admite classificar a acção como "bloqueio" e avançar, casos os taxistas não o façam voluntariamente, com aqueles equipamentos para retirar dezenas de carros e assim facilitar o trânsito na zona.

O mesmo trânsito que, noutras partes de Lisboa, parece ter desaparecido, pelas fotografias e relatos postos online. A prudência de quem tem carro parece ter falado mais alto. Metro e autocarros a abarrotar, filas de turistas para comprar bilhete. Alguns, de malas aviadas, a subir a Avenida Almirante Gago Coutinho até ao aeroporto. O caos de que uma rotunda é capaz.

cotacao Não houve porrada nenhuma. Foi a polícia que não nos deixou manifestar livremente. Florêncio almeida Presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL)
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