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João Carlos Barradas - Jornalista
26 de Agosto de 2015 às 00:01

A desvalorização do yuan vai acelerar  

Um inócuo memorando de entendimento entre Pequim e Macau sobre prevenção do branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo é um dos sinais da desvalorização substancial do yuan que está na calha.

O fracasso das directivas governamentais para conter as quebras bolsistas em Xangai e Shenzhen, indicadores negativos em Julho sobre a produção industrial, exportações, vendas a retalho, consumo de energia, indicam que dificilmente será atingido em 2015 um crescimento do PIB equivalente aos 7,4% do ano passado e só resta a desvalorização cambial e o aumento do endividamento público e privado como recurso derradeiro.

Dívida e mais dívida

A transição para uma economia privilegiando o consumo interno, reduzindo a delapidação de recursos naturais escassos, sobretudo terras aráveis e água, e contendo a degradação ecológica, mostra-se muito difícil em condições de endividamento elevado que em meados 2014 poderia cifrar-se em 28 triliões de dólares, 282% do PIB, de acordo com estimativas da "McKinsey & Company, China".

Do ano de 2010, em que a China registou pela última vez um crescimento de dois dígitos (10,4% ), resta a memória e a actualidade é uma dívida do governo central rondando 64% do PIB, compromissos financeiros das administrações locais possivelmente superiores a 30% do PIB, 140 mil milhões de yuans (cerca de 20,76 mil milhões de euros) de crédito mal-parado num sistema bancário exposto a uma bolha imobiliária.

Luz verde a aumento da concessão de crédito, reduzindo taxas de juro e provisões bancárias, implica aceitar uma desvalorização do yuan que estimule as exportações, evitando despedimentos em massa acima da inverosímil taxa oficial de 4,1%, sem delapidar reservas oficiais de 3,65 triliões de dólares (desconhece-se a composição do cabaz de divisas) para sustentar a moeda nacional.

Deflação para europeus, norte-americanos e japoneses é consequência lógica da política cambial de Pequim que maiores agruras anuncia, ainda, para produtores de matérias-primas como soja no caso do Brasil ou os minérios da Austrália e exportadores de petróleo.     

Os casinos de Macau

O combate à evasão de capitais é uma das prioridades a que obriga uma estratégia de desvalorização substancial do yuan e daí as recentes medidas securitárias preventivas e intimidatórias essenciais para preservar a legitimidade do monopólio comunista do poder a troco da segurança e prosperidade dos súbditos. 

Daí a divulgação na passada sexta-feira pelo banco central da China e terça-feira pela "Autoridade Monetária de Macau" do memorando que indicia uma intervenção directa e permanente da autoridades de Pequim para controlar a lavagem de dinheiro e transferências ilícitas de capitais de particulares e empresas do continente através dos casinos da Região Administrativa Especial.

O memorando remete para as recomendações da organização intergovernamental "Financial Action Task Force" criada em 1996 - a China aderiu em 2007, Macau em  2001, dois anos após a transferência de soberania, e Hong Kong é membro desde 1997, ainda antes de Londres ceder poderes a Pequim - e visa, aparentemente, criar condições para estancar a conversão de yuans em patacas, dólares de Hong Kong e outras moedas livremente convertíveis.

As receitas brutas da indústria do jogo, liberalizada em 2002, estão em queda há 14 meses, quedando-se em Julho em 18,6 mil milhões de patacas (1,71 mil milhões de euros), na sequência das campanhas anticorrupção e das limitações à emissão de vistos a visitantes do continente que representam cerca de 90% dos apostadores, mas, ainda assim, a sangria de capitais através de Macau continua.

A angariação de grandes apostadores via "junkets" gerou apenas 55% das receitas no primeiro semestre de 2015, abaixo dos 70% registados no início de 2014, e alguns  influentes angariadores estão sob investigação acusados de branqueamento de capitais via Macau e bancos de Hong Kong.      

A bola para a Reserva Federal

Uma campanha nacional de repressão de actividades bancárias clandestinas, branqueamento de capitais e transferências ilícitas para o estrangeiro foi, entretanto, anunciada esta semana pelo Ministério da Segurança Pública.

O vice-ministro Meng Qingfeng denunciou a violação das normas que limitam a 50 mil dólares as transferências de particulares para o exterior como uma ameaça à "segurança financeira" do país. 

Ambíguos e óbvios quanto bastem os sinais que chegam de Pequim apontam num sentido: a China não vai delapidar reservas cambiais, nem arriscar convulsões laborais, arrisca na engorda da dívida, presume ter a ganhar nos ajustes entre divisas, e passa a bola para a Reserva Federal em Setembro adiar aumentos das taxas de juro nos Estados Unidos.

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