EDP e o Demónio com uma forquilha na mão
A questão dos CMEC tem sido um dos cavalos de batalha do Governo e o impacto nos futuros resultados da EDP é forte.
Na passada semana, a EDP esteve no centro das discussões na Bolsa portuguesa devido às suas quedas fortes e à notícia de que o seu segundo principal accionista, o Capital Group, reduziu a sua posição de cerca de 10% para 3%.
Habitualmente, por mais paradoxal que possa parecer, fico optimista quando - depois de algumas semanas de quedas significativas - é anunciado que um grande accionista praticamente se desfez de toda a posição. A razão de ficar optimista é que essa pressão vendedora atinge o auge uns dias depois desse anúncio. Fica justificada a razão para as quedas anteriores à divulgação da notícia e, habitualmente, depois da saída dessa notícia, alguns investidores preferem também sair acompanhando o movimento desse accionista.
Desta vez, apesar de ser um movimento típico desse género e de ver o lado positivo (há uma mistura de sentimentos dentro de mim) que referi, não posso também deixar de ser sensível e mostrar-me preocupado com as razões que estão na génese desta saída do Capital Group e que já fiz menção em anteriores artigos de análise à EDP: a constante indefinição no que diz respeito à regulação do sector energético.
A questão dos CMEC`S (Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual) tem sido um dos cavalos de batalha deste Governo e o impacto nos futuros resultados da EDP é forte e levou a empresa estimar uma redução entre 200 a 300 milhões de euros dos lucros previstos para este ano. Parece-me compreensível que um grande accionista não queira estar sujeito às vontades de um Governo que tem penalizado as grandes empresas.
António Costa (muito bem auxiliado por Pedro Nuno Santos) tem tido o mérito de conseguir coordenar uma "geringonça" que, no início da legislatura, parecia difícil aguentar-se coesa durante tanto tempo. Mas, para que tal tenha sucedido, naturalmente que teve que fazer concessões à extrema-esquerda em alguns assuntos relevantes. E, tal como escrevi num artigo depois da nomeação do actual Governo apoiado por Bloco de Esquerda e PCP, os mercados não gostam de quem não gosta deles.
Mesmo com o país a crescer, a EDP esteve os últimos 2 anos numa monótona lateralização, apenas quebrada em alta na altura do anúncio da OPA. A cotação revisita agora esses valores, mostrando que a política governativa continua a ter impacto no mercado accionista, em particular numa empresa que não tem visto os seus lucros crescer como se esperava, quase por decreto governamental.
Mas a EDP acaba por ser o espelho do mercado português como um todo, de um Governo que tenta nem sequer se referir a ele, sob pena de abrir brechas na coligação que o apoia. Este "Bull Market" raquítico que temos vivido tem muito a ver com isso. Que grande capital estrangeiro toma posições fortes em empresas portuguesas sabendo que a tentação do regulador intervir é maior do que na maior parte dos países com economias de mercado maduras e desenvolvidas?
Alguns dos partidos que formam a "gerigonça" olham para o mercado de capitais como um Demónio com uma forquilha na mão. E aquilo que temos visto é que, sempre que podem, roubam a forquilha ao suposto Demónio e vão infligindo pequenos golpes num mercado já de si pequeno e que com esses golpes tem mais dificuldade em atrair investidores estrangeiros que fogem de tudo isto como o Diabo da cruz.
Nem Ulisses Pereira, nem os seus clientes, nem a DIF Brokers detêm posição sobre os activos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui
Analista Dif Brokers
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