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António Gomes Mota
05 de Setembro de 2006 às 13:59

Espírito de equipa

Sou um aficionado de longa data de basquetebol e nas duas últimas semanas pude acompanhar o campeonato do mundo, no Japão, que terminou com a vitória da nossa vizinha Espanha.

Estes campeonatos representavam um particular desafio para a selecção dos EUA. Depois de batidos nos últimos jogos olímpicos (a Argentina arrebatou a medalha de ouro), com uma selecção então acusada de enorme displicência, convencida da absoluta superioridade dos seus galácticos jogadores NBA, desta vez levaram a competição a sério, desde a preparação, à escolha dos jogadores, visando a criação de uma verdadeira equipa.

O resultado final não foi muito melhor. Derrotada nas meias-finais pela Grécia, contentaram-se com o 3º lugar. Sorte muito semelhante teve a Argentina, à priori a segunda favorita, que ostentando a sua condição campeã olímpica e muito confiante na qualidade das suas estrelas NBA (Manu Ginobili, em particular), não teve uma preparação muito cuidada. Ficou em 4º lugar.

Olhemos agora com mais atenção para os finalistas, Espanha e Grécia e para os seus treinadores, José Vicente Hernández e Panagiotis Yannakis. Este dois treinadores têm uma característica em comum. A primeira é a de que são cultores exacerbados do espírito de equipa. Nas suas rotinas de treino, nos estágios, na preparação dos jogos, despendem uma invulgar parte do tempo na construção e consolidação desse espírito, cortando a direito com qualquer manifestação de vedetismo ou de menor envolvimento na equipa. Yannakis enviou mais cedo para casa um jogador por ter mostrado um relativo estado de indiferença quanto à evolução do marcador de um jogo de preparação, Hernández não convocou um jogador, titular praticamente indiscutível da selecção espanhola, explicando e explicitando (pouco comum nestes situações), que ele era um elemento que não fomentava a coesão do grupo.

Esta cultura da força do grupo não terá sido, porventura a única nem sequer provavelmente a principal razão explicativa do sucesso. Mas não deixou de entrar pelos olhos dentro a quem a assistiu à performance ao longo das duas semanas destas duas equipas, esse espírito de equipa como dínamo de todo o sucesso e a tal ponto que, no caso da Espanha, não podendo contar na final com Paul Gasol, a sua estrela da NBA, lesionado nas meias-finais, fez o seu melhor jogo de todo o campeonato.

Esta breve incursão pelo basquetebol, agora que um novo ano lectivo se avizinha, recorda-me justamente o conceito de trabalho em equipa que a minha como muitas outras Escolas acarinham e incentivam como prática regular de estudo e trabalho dos alunos, procurando antecipar e bem uma atitude e um método que são cada vez mais importantes no mundo das organizações. A questão que permanece, no entanto, é a diferença entre trabalho e espírito de equipa. Trabalho envolve fundamentalmente a dimensão de cooperação, enquanto o espírito de equipa valoriza fundamentalmente a o grupo em detrimento das individualidades e gera em cada membro a capacidade de superação for força da contribuição do e para o grupo.

E este conceito de espírito de grupo está ainda longe de merecer a atenção devida a nível do dia-a-dia das organizações. Não se trata de desenvolvimento da cultura de empresa, nem tão pouco de arremessar o jargão de vestir a camisola. É antes uma atitude que parte do indivíduo para o colectivo que lhe é mais próximo que terá de ser tão natural quanto essencial para o seu próprio desenvolvimento e sucesso. Não surpreende e voltando ao basquetebol que Yannakis e Hernández tenham ainda uma outra afinidade: são cada vez mais requisitados nos seus países para realizarem em grandes empresas «workshops» sobre liderança e desenvolvimento não de trabalho de equipa mas antes, como Yannakis refere, de explorar plenamente o potencial de cada grupo.

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