Quem quer ser milionário?
Há questões impossíveis de responder. Como as que se colocam sobre o personagem de "Slumdog Millionaire", o filme de Danny Boyle: como é que um miserável órfão de 18 anos pode ganhar o "Quem quer ser milionário?" da Índia sem ter feito batota? Só pela dúvida foi preso.
Há, claro, outras perguntas menos incrédulas: como é que o ex-CEO do Lehman Brothers, Dick Fuld, pôde vender em saldo à sua mulher a sua mansão na Florida, que custara uns míseros 13 milhões de dólares, por uma nota de 100 dólares? Tudo se deveu à crise do imobiliário americano e à queda do valor das casas, poder-se-á argumentar. Como diria um membro da administração do presidente Theodore Roosevelt, "o grande monopólio neste país é poder prover dinheiro". Tudo tem a ver com dinheiro ou, pior, com números. É por isso que num dia em que desaparecem 70 mil empregos (alguns deles em Portugal) isso pareça ser uma banalidade. A ficção de contos de fadas em que se tornou o dinheiro e os números nas últimas duas décadas fazem com que a crise pareça um drama de Hollywood. Não é. A crise financeira contaminou a economia real. E sem emprego não há consumidores, o motor da sociedade de consumo que derrotou todas as ideologias do século XX. Não é por acaso que a sorte atrai, como fuga, tanto os que vão a Las Vegas, apostar o dobro de nada, como os que jogam nos concursos televisivos. A sorte, sendo uma incerteza, já não é diferente daquela que todos os dias se joga na economia real. Todos querem ser milionários. Uns têm sorte. Outros não.
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