Caixa, o "banco das pessoas"
A Caixa Geral de Depósitos lançou este fim-de-semana uma nova campanha publicitária. O objectivo assumido na autopromoção é "posicionar a Caixa como o banco das pessoas e o motor da economia nacional". A originalidade passa por colocar os cartazes de "pernas para o ar". Uma fotografia inadvertidamente perfeita do estado actual do banco público. A Caixa, "com certeza", está de pernas para o ar.
O problema da Caixa, hoje, não é a Caixa. São as pessoas. As pessoas que colocaram a Caixa na situação de fragilidade. Financeira, política e, agora, estratégica.
Se a banca foi um dos actores do desequilíbrio financeiro do país – que o empurrou para a bancarrota –, a Caixa foi o capitão do barco. Como líder do sector, embarcou na concessão de crédito desenfreada, em ferozes batalhas por quota de mercado. Usou a extensa rede de balcões como vantagem competitiva e aproveitou a confiança "cega" dos seus clientes em benefício de estratégias comerciais, que não a distinguiram dos seus concorrentes. À custa das pessoas clientes.
Politicamente, a sua intervenção em "guerras" de poder empresarial culminou numa exposição pouco saudável ao mercado accionista, com custos milionários para o accionista Estado. Para as pessoas contribuintes. Pelo caminho, muitas pessoas políticas desembarcaram na Av. João XXI para tranquilamente "recuperarem" dos seus percursos políticos.
E agora, de pernas para o ar, assiste-se a uma descredibilização do banco público promovida por um Governo que não pensa a Caixa em termos estratégicos. Pensa na instituição em função das suas necessidades específicas, como mais uma vítima do ajustamento e não como um agente do pós-ajustamento. Até porque, em boa verdade, Passos Coelho nem sequer queria a Caixa no Estado, antes de ser primeiro-ministro.
Só assim se percebe, por exemplo, que a Caixa saia da Cimpor "à força" para depois estar o Governo ao lado dos seus novos donos a promover a importância da cimenteira para o tecido empresarial português. Ou que a Caixa "desalavanque" às cegas e agora seja pressionada a "alavancar-se" novamente. E novamente às cegas.
Não admira, portanto, que ninguém queira ir para a administração da Caixa. Não há estratégia, não há missão, apesar das cartas que se votam em assembleias-gerais. No fundo, a Caixa é um espelho do Governo: um deserto de ideias para além da contabilidade pública. Neste contexto, vão ficar com o "banco das pessoas", sem pessoas. E, na realidade, de pernas para o ar.
*Editor de Empresas
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