Portugal Surreal
"Só a História julgará, com a distância indispensável, a acção de cada um de nós como agentes políticos". Esta frase, dita por Miguel Relvas no anúncio da sua demissão do Governo, aplica-se à leitura dos jornais desta segunda-feira, dia 8 de Abril, se se substituir "agentes políticos" por "agentes mediáticos".
De facto, Portugal vive tempos únicos, tempos que o surrealismo inerente impede de avaliar, friamente, determinadas posições. Só a distância histórica permitirá, portanto, julgar afirmações como:
"Até Salazar o disse no final da II Guerra Mundial: ‘Não se pode governar contra a vontade persistente de um Povo’...". Escrito pelo antigo Presidente da República, Mário Soares, no "Público".
"Desolador é uma guerra no nosso território ou um terramoto. Não desvalorizo todas as dificuldades, nomeadamente para os reformados e para os desempregados. Há que ter cuidado em não perder a noção das dimensões, porque o mundo pode ser sempre pior". Dito por Vítor Bento, presidente da SIBS, em entrevista ao "Público".
"Portugal passa por um momento terrível, mas isso não o deve impedir de admirar esteticamente uma obra de arte excepcional. Ora o regresso de José Sócrates é um espantoso feito de técnica política, do mais alto nível mundial". Escrito por João César das Neves, professor universitário, no "Diário de Notícias".
"José Sócrates é um jornalista. É um comentador e um cronista. Como governante, saiu-se mal, por não ser conciliador ou transigente". Escrito pelo antigo jornalista Miguel Esteves Cardoso, no "Público".
"Miguel Relvas não foi um idiota preguiçoso. Foi – e é – um político profissional. Sem políticos profissionais, estaríamos tramados. E mal de nós se exigíssemos que eles fossem todos licenciados". Escrito por Miguel Esteves Cardoso, no "Público".
E finalmente: "Dizer que um artigo escrito num jornal de grande responsabilidade não é uma prova escrita, às vezes é mais exigente do que qualquer prova escrita em qualquer cadeira, relacionada, por exemplo, com economia, com gestão ou com política económica... São poucos os alunos que são capazes de fazer isso ao longo da sua carreira académica". Dito por Manuel Damásio, administrador da Lusófona, em entrevista ao "Diário Económico", sobre a licenciatura de Miguel Relvas.
Tempos extraordinários exigem... tempo para digeri-los. E alguma dose de clarividência, que só os historiadores, distantes no tempo, se podem permitir ter.
*Editor de Empresas
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