O que mais surpreende é que a sociedade e todo o modelo organizacional tem uma enorme dificuldade em antecipar-se. Exemplo claro do que estou a mencionar é a existência de cursos profissionais ou superiores que preparam alunos para profissões que irão desaparecer, ou então, professores que ensinam temáticas baseadas nos anos 90 do século passado.
Em tempos escrevi que as profissões irão acabar e que é fundamental as pessoas investirem na construção de um mapa de competências flexíveis e adaptáveis a várias necessidades do mercado de trabalho. Mesmo que nem todas as profissões acabem, é certo que algumas irão desaparecer, e mesmo as que não desaparecerem sofrerão mutações enormes. Por exemplo, na medicina, hoje temos supercomputadores que são muito mais fiáveis a diagnosticar doenças do que os médicos humanos. Para um médico que não esteja preparado para lidar com esta revolução será certamente muito penoso, ou seja, os bons médicos do futuro serão muito bons a lidar com as novas tecnologias e a aceitar que sejam suas aliadas e não enfrentá-las como concorrentes.
Paralelamente a esta revolução, assistimos diariamente a intervenções de alguns sindicatos que estão completamente desajustados da realidade das novas tendências do mundo do trabalho; no futuro será mais importante um menor poder reivindicativo e uma maior astúcia na preparação do futuro das profissões sindicalizadas. Vejo poucos sindicatos a investirem em investigação e desenvolvimento, ou em colaborarem com as organizações para aumentar a produtividade em Portugal. Sim porque os sindicatos deverão interiorizar que hoje o contexto internacional é o seu grande adversário e não as organizações nacionais.
De que vale estarmos sempre a olhar para a taxa de desemprego de um país se o emprego não representar um trabalho digno e de qualidade. Vejamos este exemplo: alguém que não gosta do trabalho que tem, que mensalmente ganha seiscentos euros e que na deslocação diária entre casa e trabalho e vice-versa gasta quatro horas… além de gastar com o seu trabalho doze horas, esta mesma pessoa está privada da sua família e com o ordenado que recebe é difícil ter uma vida digna…. No entanto esta mesma pessoa contribui para uma taxa de desemprego baixa.
É mais importante a taxa de desemprego ou a taxa de felicidade?
É muito interessante o exemplo do Butão, um país que tem um Ministério da Felicidade e que, além do cálculo do Produto Interno Bruto, calcula a Felicidade Interna Bruta.
Outra questão atual é a crescente utilização da inteligência artificial que ditará o fim de muitas profissões. A solução preconizada poderá ser os robôs que "furtam" postos de trabalho começarem a pagar imposto do género "Imposto de rendimento tecnológico". Com este recurso, o Estado poderá financiar quem por opção não queira trabalhar.
Existe uma dicotomia no ser humano. Há pessoas que são felizes porque trabalham enquanto outras não gostam mesmo de trabalhar e não acrescentam valor no que fazem. Quem não gosta de trabalhar está no seu pleno direito.
Há que assumir que o trabalho não traz felicidade a todas as pessoas, e neste sentido a taxa de desemprego não é assim tão importante. O que deveria interessar é a taxa de felicidade das pessoas.
Gestor e Professor Universitário
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
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