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O silêncio dos inocentes

Ao escolher a carreira política, Manuel Pinho tinha, no mínimo, de conviver com o pragmatismo do seu mundo. É por isso que agora não pode vir dizer que ficará calado se for depor à Assembleia da República.

O grande banqueiro norte-americano J. P. Morgan era conhecido pelo seu pragmatismo. Por isso, quando o tentavam confundir, ele respondia como se estivesse a fazer tiro ao alvo: "Um homem tem sempre duas razões para fazer algo; uma boa razão e a razão verdadeira." Morgan não acreditava nos tapetes voadores dos cenários idílicos das mil e uma noites. Nem nos cheques que voavam, como aviões, dumas mãos para outras, para iludir o mundo dos distraídos e dos crédulos. É por isso que o pragmatismo (às vezes irmão de sangue do cinismo) faz parte da política, das finanças ou da economia. E é muitas vezes esquecido noutros mundos onde se patina na maionese. Um dia se fará melhor a história escondida das cumplicidades deste Portugal democrático, aquela que não surge nos telejornais das oito da noite. Ou, talvez, nunca se faça. Mas, agora que se vive nesta "caça ao corrupto", que o nosso prestimoso Ministério Público tanto motiva, não faltam clientes para ser queimados na fogueira pública. O mais recente é Manuel Pinho, um caso real de príncipe imperfeito, que calhou ter ido parar a ministro, como poderia ter sido outra coisa qualquer. Mas não é isso que é importante.

Ao escolher a carreira política, Manuel Pinho tinha, no mínimo, de conviver com o pragmatismo do seu mundo. É por isso que agora não pode vir dizer que ficará calado se for depor à Assembleia da República. Isso não anula a incompetência do Ministério Público de não o ouvir há 10 meses. Isso anula o resto da sua imagem. Manuel Pinho só tinha de vir dizer uma coisa: "Não recebi mais nada enquanto era ministro." Ponto final. Tudo o resto transforma-o numa espécie de Trinitá, o chamado "cowboy insolente", naqueles filmes em que as personagens se arrastam, deitados, numa cama transportada por um cavalo cansado. Portugal pode ser um paraíso dos compadres, mas há limites. E Manuel Pinho torna-se assim uma personagem de um "western spaghetti". O seu silêncio é ensurdecedor. Fica mal a quem um dia quis ser levado a sério como político.

Grande repórter

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