A era da política Pinóquio
Aristóteles não era um centrista, apesar de situar a virtude no centro. Quando colocou o valor de alguém entre a temeridade e a cobardia mostrava o que era a virtude sem ambiguidades, algo que era próprio dos homens íntegros.
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Aristóteles desenhou o primeiro mapa da ética e, por isso, também da política. Hoje, quando pensamos no que nos legou, não deixamos de ficar arrepiados. A ética ou a verdade são hoje valores insolventes no círculo do poder. Basta olhar à volta. Não deixa de ser curioso como se começou entretanto a discutir a política "pós-verdade" que começa a entranhar-se nas sociedades ocidentais. Há dias, Steve Richards, no Guardian, discorria sobre o tema, sobretudo a partir da evidência da chegada à política de "outsiders" que conquistavam espaço através de argumentos que, obviamente, não são verdadeiros. Olhava de resto para o que sucedeu no Brexit ou no que está a acontecer nos EUA com Donald Trump. Mas os exemplos são mais vastos. Ao mesmo tempo, quem está no interior do círculo de poder vê o seu território minado. Quem vem de fora pode propor soluções a audiências empolgadas, mas todas elas são normalmente fáceis de digerir pelos cidadãos e parecem corresponder aos seus anseios. Mesmo que sejam impossíveis de concretizar. Ou seja, não é verdadeira. Sabe-se que, na política, a verdade é sempre um valor relativo. Basta recordar o que foi o consulado de José Sócrates em Portugal. Ou a promessa de Passos Coelho de não cortar o subsídio de Natal se chegasse ao poder. Ou seja, a subjectividade da "verdade" é real.
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