O anti-herói Stan Lee
Stan Lee veio trazer humanidade ao mundo dos super-heróis que não tinham dilemas existenciais, que eram deuses sem problemas humanos. Os seus heróis eram anti-heróis.
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Uma das grandes criações de Stan Lee foi o Homem-Aranha. E este, numa das suas aventuras, dizia-nos, sem grandes dilemas filosóficos: "Um grande poder implica uma grande responsabilidade." Coisa que tem faltado a muitas personagens que têm passado pelos palcos da política ou da economia ao longo dos anos, de José Sócrates a Donald Trump. Stan Lee percebeu, como muitas vezes sucede na cultura popular, os sinais dos tempos. Tal como o fez David Bowie na música. Antecipou, muitas vezes, as mutações sociais que se desenhavam nas esquinas escuras das cidades, longe dos locais iluminados onde políticos e financeiros discutiam o poder. Stan Lee foi um filho da Grande Depressão americana de finais da década de 1920 e um observador atento dos super-heróis, como Super-Homem, que nasceram para redimir a alma americana no meio da descrença e da insegurança desses dias. Os super-heróis surgiram para redimir as sociedades cansadas de corrupção, crime e medo. Explicam tudo sobre os pretensos super-heróis de hoje, os Trump, os Duterte ou os Bolsonaro. No tempo em que nasceu o Super-Homem não havia espaço para o que não era branco ou preto, bom ou mau, honesto ou corrupto. Como, numa perversão ideológica da política de hoje, tudo está radicalizado entre o "nós" e o "eles".
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