Afinal o Governo é contra o aumento da natalidade
Este chorrilho de contradições, pelo seu absurdo, faz suspeitar que o que realmente incomoda os deputados e o governo ao ponto de traírem o seu próprio programa e os seus eleitores é a coisa ter surgido por iniciativa dos cidadãos – como é que esses gajos se atreveram! — e não das suas próprias cabeça.
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Quando o PSD e o CDS se recusaram a votar a rara Iniciativa Legislativa de Cidadãos que propunha o aumento da licença parental de quatro para seis meses fiquei de boca aberta — como é que era possível que os dois partidos que mais gastam as cordas vocais a defender a família, se "cortassem" a seguir o seu próprio programa eleitoral que linha sim, linha não, declara "o aumento da natalidade como desígnio nacional" (sic), e a proteção das crianças e dos pais como um dos seus dez mandamentos. É que a "Lei Carina Pereira", o nome da autora desta iniciativa e que tragicamente morreu antes de a ver aprovada na AR, foi precisamente uma mãe que não se conformou com a contradição entre a recomendação da OMS que prevê a amamentação exclusiva até aos seis meses do bebé e a obrigatoriedade de voltar ao trabalho antes disso, se não tiver rendimentos que lhe permitam outra estratégia. Uma mulher que, com o apoio de especialistas chamados por várias vezes ao Parlamento, deixou evidentes os benefícios dessa alteração, num ganho global calculado em milhões de euros.
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