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Jorge Fonseca de Almeida - Economista
17 de Fevereiro de 2021 às 14:25

Democracia defeituosa

A par do empobrecimento que nas últimas décadas nos têm aproximado do fundo da classificação europeia, Portugal está também a tornar-se paulatinamente um país menos democrático e mais autoritário.

A reputada The Economist publica todos os anos o seu índice de democracia classificando todos os países do mundo em quatro grupos: o das democracias plenas, o das democracia defeituosas, os de regime hibrido e os regimes autoritários.

O grupo das Democracias Plenas inclui países europeus como a Noruega, a Dinamarca, a Irlanda, a Alemanha, a Suíça, a Holanda, a Áustria, a Espanha e tantos outros; Latino-Americanos como Uruguai, o Chile, a Costa Rica, asiáticos como o Japão, a Coreia do Sul e outros; da Oceânia como a Austrália e a Nova Zelândia e outros como o Canadá e as Maurícias.

Sem surpresa para quem cá vive e sofre, Portugal não se integra no grupo das democracias plenas, mas no grupo das democracias defeituosas (flawed democracies). No grupo em que a democracia é imperfeita, em que a lei não se aplica por igual a todos os cidadãos, onde a justiça está sob a tutela do poder executivo e não pode atuar livremente.

Num país em que a extrema-direita se afirma, em que o racismo anti-cigano é comum e encontra expressão nos principais órgãos de comunicação social, em que uma autarquia socialista manda isolar toda uma comunidade, em que o homicídio à paulada de um jovem negro por um bando de assassinos é visto como um crime não racista, em que um dirigente antirracista é insultado e ameaçado perante a passividade das autoridades e atacado nos jornais sem que lhe seja dada voz, em que um emigrante é morto pelas forças policiais e nada acontece até a União Europeia intervir, não admira que o nosso país se não inclua já no lote dos países plenamente democráticos.

Num país em que para provar que o confinamento parcial está a resultar se suspendem os testes sem que ninguém ouse denunciá-lo e todos continuem alegremente comentar a estonteante baixa dos casos como se esta fosse real; em que os jovens e saudáveis membros das forças de segurança são vacinados primeiro que os idosos; em que a fome alastra perante a passividade das autoridades e o silêncio social, não admira que a democracia não seja plena e esteja defeituosa.

Infelizmente é necessário que venha alguém de fora dizê-lo, porque a nossa classe política está tão anquilosada e afastada dos problemas reais do país e tão viciada nos seus métodos autoritários que não quer ver, nem discutir os atropelos que comete. Já não parece haver forças, nem recursos para o regime se reformar. O perigo da extrema-direita é cada vez mais real, puxando inexoravelmente Portugal para o abismo da pobreza, do racismo e da ditadura disfarçada.

A par do empobrecimento que nas últimas décadas nos têm aproximado do fundo da classificação europeia, Portugal está também a tornar-se paulatinamente um país menos democrático e mais autoritário. Uma democracia desligada da população que na sua maioria vira as costa e se abstém de participar nos processos eleitorais.

Não admira o veredito do The Economist. É merecido.

O relatório Democracy Index 2020 deste ano, referente a 2020, pode ser consultado em file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/democracy-index-2020.pdf.

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