Opinião
Quo vadis, CP?
Tal como estamos, na CP perderão os trabalhadores, os sindicatos e, talvez, os contribuintes. O utente ganhará sempre. Ainda bem que a Europa e as suas Liberdades nos afastam da Venezuela.
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A FRASE...
"Portugal não está preparado para liberalização do transporte ferroviário de passageiros."
Expresso, 28 de agosto de 2018
A ANÁLISE...
Portugal tem estado preparado para tudo, com a habitual docilidade com que aguentou 48 anos de uma ditadura. O estado actual da ferrovia, entre supressões de composições até ao estado das mesmas é um retrato fiel do Estado. A combinação do brilharete de reposição de salários, retirados nos PEC do governo Sócrates, com as cativações para o brilharete de ir além da troika no cumprimento dos défices recordes, deu nisto. Um Estado que não cumpre muitas das suas elementares obrigações de serviço público, mas engrossa o número de funcionários, logo votantes. E se não há dinheiro e temos de cortar despesas, onde vamos cortar? Na manutenção, aquele gasto invisível ou gás inodoro que mata a prazo. Composições paradas por falta de manutenção é vulgar, segundo denúncia dos próprios trabalhadores. E as muitas comissões de utentes, onde andam? Sempre prontas a serem usadas politicamente, expõem a sua fraude existencial, talvez ocupadas a montar palcos na festa do Avante…
Durante o próximo ano e meio assistiremos talvez à entrada de novos operadores privados a concorrer com a CP. Não lhes será difícil fornecer aos utentes um serviço melhor e mais barato, carruagens boas, pontualidade e fiabilidade, como acontece nos restantes países europeus, como bem sabe quem por lá viaja. Privatizar a empresa, preparando-a para a concorrência ou concessionar linhas é um anátema, um bloqueio ideológico para quem ocupa hoje o poder. Como a Comissão Europeia irá estar muito atenta aos apoios do Estado à CP e a eventuais dificuldades administrativas artificiais à entrada de novos operadores, como se irá aguentar a empresa?
Vejamos os exemplos existentes, a CP Carga é hoje Medway, privada, com um serviço comercial mais fiável e competitivo com a rodovia e a Fertagus tem um nível de satisfação muito mais elevado que a CP. E a conflitualidade laboral é menor em ambas.
A cegueira ideológica diz que mais vale um serviço público mau do que poder haver um serviço privado bom, se conseguir, e que demonstre os benefícios da escolha. Tal como estamos, na CP perderão os trabalhadores, os sindicatos e, talvez, os contribuintes. O utente ganhará sempre. Ainda bem que a Europa e as suas Liberdades nos afastam da Venezuela.
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
maovisivel@gmail.com