O petróleo e o óleo alimentar
Nos últimos anos os clubes transformaram-se em SAD, os presidentes em CEO, os treinadores em executivos e os jogadores em mercadoria. Chamou-se a isso a nova indústria do futebol. Mas nenhum clube conseguiu ainda transformar-se numa...
Nos últimos anos os clubes transformaram-se em SAD, os presidentes em CEO, os treinadores em executivos e os jogadores em mercadoria. Chamou-se a isso a nova indústria do futebol. Mas nenhum clube conseguiu ainda transformar-se numa multinacional do petróleo e não há um estádio que seja uma plataforma petrolífera. Espantou por isso que o sr. Pinto da Costa, detentor de uma ironia milenar, tenha anunciado seguramente que não há petróleo no Porto.
Deixando subentender que ele existe em Lisboa, talvez na desconhecida zona pré-sal da Segunda Circular. É um engano: na Luz ou em Alvalade, como no Beato, onde a mulher de Raul Solnado foi um dia colher uma alface e descobriu petróleo, não há ouro negro. Os profetas do novo futebol sabem que não há petróleo no futebol: há créditos e dívidas e, sobretudo, existem muitos negócios de compras e vendas. O sr. Pinto da Costa pode dizer que, agora, não há petróleo nas Antas, mas no Verão houve pelo menos uma refinaria: daí se compreenda que tenha gasto mais de 20 milhões de euros em reforços. A sua postura não é diferente da do sr. Luís Filipe Vieira ou, agora, do sr. José Eduardo Bettencourt. Todos querem construir novos Dubai com ouro fornecido por outros. Dizia-se antigamente que quando não havia dinheiro não havia palhaço. Agora o paradigma mudou. O futebol transformou-se num conjunto de créditos ilusórios que buscam a grande ficção: a sagração da vitória. Em Portugal, claro, o futebol é uma complexa mistura de Hollywood e Parque Mayer. É o chamado entretenimento de humor duvidoso. FC Porto, Benfica e Sporting sabem que nunca irão à falência, e por isso dedicam-se à nobre arte do ilusionismo com valores que não têm. Mas desde que, em cada época, vendam um sr. Di Maria, um sr. Lucho González, ou ou sr. Miguel Veloso, os clubes transformam-se em gasodutos. Basta alimentar a dívida, para alegria da tribo dos comissionistas que se alimentam do futebol. Não falta dinheiro ao FC Porto, ao Benfica e ao Sporting, porque o que é necessário é que a sua dívida nunca se salde. E como os adeptos estão preocupados é com os craques e as vitórias, quem é que se importa com a rentabilidade económica da chamada indústria do futebol? Os clubes servem para muitas coisas, e muitas delas não necessitam de ser claras.
Quem é que garante a dívida astronómica da família americana Glazer? O património do Manchester United. É claro que não há petróleo no futebol português. Haverá, quanto muito, óleo alimentar. Mas, para o caso, tanto faz. Afinal, no futebol o que importa é comprar e vender. Mesmo sem dinheiro real.
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