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Uma questão de reputação

Será o risco reputacional razão para não ir ao aumento de capital do BES?

 

A menção dos riscos da operação é coisa obrigatória em todos os prospectos de venda de acções. Invulgar é a lista incluir o risco reputacional, como acontece no aumento de capital do BES.

O risco para a reputação do banco advém da venda de papel comercial da Espírito Santo International (ESI), "holding" de controlo do grupo, a clientes do BES. Este financiamento era antes assegurado através da compra daqueles títulos pelo Espírito Santo Liquidez, um fundo comercializado no retalho. Novas regras introduzidas pela CMVM obrigaram a colocar o papel comercial directamente nos clientes. Estava-se em Novembro.

Em Março, chega a notícia de que o ESFG vai fazer uma provisão de 700 milhões para cobrir o risco de a ESI não ser capaz de reembolsar os 1,7 mil milhões de euros de papel comercial que estavam à data colocados junto dos clientes. No prospecto do aumento de capital vem preto no branco aquilo que já se adivinhava. A auditoria do Banco de Portugal "identificou irregularidades nas contas" da "holding" de controlo do Grupo Espírito Santo (GES), que apresenta "uma situação financeira grave".

Ricardo Salgado garante, na entrevista ao Negócios publicada a semana passada, que a administração do banco não sabia, quando vendeu os títulos, da "enfermidade" que afecta a ESI. Caso soubesse, o caso teria de passar por uma investigação à gestão.

Imagina-se o susto que levou quem comprou o papel comercial ao ver a notícia da provisão. Esse susto, e a possibilidade de o caso poder vir a ter outras consequências, representa um risco reputacional para o próprio BES e pode afectar as cotações do banco, como vem mencionado no prospecto.

Porque alguns dos anteriores membros do conselho de administração da ESI são também administradores do ESFG e do BES, a mancha reputacional atinge-os também. Por muito que Ricardo Salgado diga que a culpa foi do "commissaire aux comptes", o contabilista da ESI no Luxemburgo.

O erro é assumido pelo presidente do BES. Mas será o risco reputacional razão para não investir no aumento de capital? A reestruturação societária desenhada pelo Banco de Portugal visa isolar a parte financeira, da não financeira (que até perde o nome da família). As contas do banco nunca foram tão escrutinadas. Depois da operação, haverá novos accionistas. E, mais à frente, uma nova administração, mais independente. Será suficiente?

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