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Wall Street com melhor sessão em três anos. Dow dispara mais de 1.000 pontos na maior subida de sempre

As bolsas norte-americanas encerraram em forte alta, numa sessão de acentuada retoma, depois das avultadas perdas dos últimos dias. Há três anos que não subiam tanto numa só sessão.

Reuters
26 de Dezembro de 2018 às 21:08

O Dow Jones encerrou a somar 4,98% para 22.877,43 pontos, tendo sido a primeira vez na sua história que subiu mil pontos numa só sessão.

Já o Standard & Poor’s 500 avançou 4,96% para 2.467,76 pontos e o tecnológico Nasdaq Composite disparou 5,84% para 6.554,35 pontos.

Com o desempenho desta quarta-feira, depois de terem estado encerrados ontem, os principais índices de Wall Street recuperam assim de uma desastrosa véspera de Natal – depois de terem vivido a pior semana em 10 anos.

Os receios em torno da desaceleração económica mundial, das tensões comerciais (especialmente entre os EUA e a China) e da paralisação ("shutdown") parcial dos serviços federais norte-americanos têm contribuído para o pessimismo dos investidores e para o movimento generalizado de vendas ("sell-off").

Mas hoje o sentimento foi de optimismo. A ajudar ao bom desempenho de Wall Street esteve um conselho do presidente Donald Trump aos investidores: aproveitem para comprar acções, que ficaram a bons preços devido ao movimento generalizado de vendas.

"Temos empresas – as maiores do mundo, que estão a ter um grande desempenho", disse o presidente dos Estados Unidos aos jornalistas na Casa Branca. "Têm apresentado números recorde. Pelo que penso que esta é uma tremenda oportunidade para comprar. É mesmo uma grande oportunidade para comprar" acções, afirmou Trump.

Após as declarações de Trump, a Bloomberg foi analisar em que níveis se encontram os múltiplos de mercado de Wall Street. E constatou que a recomendação do presidente dos EUA até pode fazer sentido.

É que o PER (rácio que mede a relação entre a cotação e o lucro por acção) está no nível mais reduzido desde 2013. As cotadas do S&P500 estão a transaccionar a cerca de 13 vezes os lucros estimados para os próximos anos e também reduziram de forma substancial o prémio com que transaccionavam face às pares europeias no início do ano. Isto numa altura em que se mantém intacta a perspectiva de aumento nos lucros das empresas norte-americanas.

A análise da Bloomberg também mostra que as ocasiões anteriores em que Wall Street transaccionou com um PER tão reduzido representaram boas oportunidades de compra. Foi o que aconteceu no quarto trimestre de 2013, pois quem entrou no mercado nessa altura de desempenhos negativos, está agora a acumular um ganho de 56%.

Um dos grandes destaques da sessão desta quarta-feira foi a Amazon. A empresa de comércio electrónico fechou a escalar 9,45% para 1.470,90 dólares, impulsionada pelas boas vendas nesta época natalícia.

Com efeito, a retalhista online liderada por Jeff Bezos e a Mastercard reportaram vendas robustas neste período, o que sugere que os cheques salariais mais chorudos deste mês e os preços mais baratos da gasolina (depois das fortes quedas do petróleo nos últimos tempos – hoje contrariadas com subidas fulgurantes de perto de 10%) estão a ajudar a impulsionar os gastos dos consumidores (que são quem mais contribui para o PIB dos EUA).

Uma boa sessão não estabelece uma tendência

Apesar destes ganhos, o Nasdaq continua em "bear market" (quando perde pelo menos 20% face ao último máximo) e o Dow e S&P 500 mantêm-se em território de correcção (queda de pelo menos 10% face ao último máximo).

As bolsas do outro lado do Atlântico continuam também em posição de poderem registar o pior mês de Dezembro desde 1931 – em plena Grande Depressão.

"A única certeza em relação ao mercado este mês é a incerteza. Qualquer má notícia pode transformar uma tendência de subida numa forte queda", escreve a CNN Business.

Recorde-se que as quedas recentes deixaram o S&P500 em mínimos desde Abril de 2017. Desde o início do mês o índice norte-americano recua 14,8%, sendo que no acumulado do quarto trimestre o desempenho é ainda mais negativo: -19,3%.

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O espectro do "shutdown"

 

Apesar de Trump ter ajudado ao bom momento de hoje em Wall Street, a turbulência vivida em Wall Street nas últimas sessões também se deve em grande medida ao presidente dos Estados Unidos. O Governo norte-americano está em "shutdown" desde sábado, sendo que a paralisação parcial deverá prolongar-se nos próximos dias, até que seja possível fechar um acordo para o financiamento do muro na fronteira com o México.

Esta paralisação é parcial, visto que parte do financiamento já está assegurado. Com efeito, já tinha havido aprovação prévia de 75% dos fundos para o funcionamento normal dos serviços públicos.

Contudo, os restantes 25% dos programas federais estão sem dinheiro, pelo que se encontram encerrados. Entre estes 25% estão programas dos departamentos da Segurança Nacional, Justiça e Agricultura.

Mas o que mais enervou os investidores foi a possibilidade de Trump demitir o presidente da Reserva Federal. No fim-de-semana surgiram notícias de que o presidente dos Estados Unidos estava a ponderar afastar Jerome Powell.

O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, apressou-se a tentar acalmar os mercados ao afastar este cenário. Mas ao mesmo tempo emitiu um despropositado comunicado a anunciar que tinha falado com os CEO dos maiores bancos de Wall Street e que estes lhe tinham comunicado que não existam problemas de liquidez no sector financeiro. O mercado não entendeu a necessidade de o Tesouro dos EUA de falar da saúde financeira dos bancos, o que agravou o nervosismo dos investidores e aprofundou a queda dos mercados accionistas na segunda-feira.

Trump reitera confiança em Mnuchin e Powell

A imprensa norte-americana noticiou que Trump terá ficado furioso com a forma como Mnuchin falhou na tentativa de acalmar os mercados, pelo que surgiram rumores que também pretendia demitir o seu secretário do Tesouro.

Na conversa com os jornalistas na Casa Branca, ao final do dia de terça-feira, Trump desvalorizou este cenário. Questionado se mantinha a confiança em Mnuchin, afirmou que "sim mantenho, [Mnuchin] é um homem muito talentoso e uma pessoa muito inteligente".

Trump não foi tão generoso com o presidente da Fed, mas também afastou a possibilidade de o demitir. Repetiu que o banco central está a "subir as taxas de juro de forma muito rápida", mas está convicto de que a Fed "rapidamente perceberá isso".

Esta mensagem de confiança em Mnuchin e Powell esteve hoje a ser entendida como uma forma de Trump acalmar os mercados financeiros.

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