A liderança intermédia - forças de bloqueio ou facilitadores?
A literatura relevante sobre a liderança em organizações, releva três estilos de liderança cuja actuação recai sobre os seguintes domínios:
a) a literatura que focaliza a importância do líder como visionário, alguém que transmite a visão e o rumo do processo de mudança; b) a literatura que focaliza o líder como participativo, alguém que apela constantemente e facilita a participação plena de todos os membros da organização c) a literatura que focaliza o líder como transaccional, aquele que estabelece uma interacção e envolve os subordinados, pelo prémio e pela punição, acompanhando permanentemente o evoluir das mudanças.
Num estudo efectuado no programa denominado Minnesota Innovation Research Program (MIRP), o qual, procurava entender a influência de actuação destes três estilos de liderança em processos de mudança, propuseram um modelo que intitularam como "bi-cicle", cuja articulação se assemelha a uma bicicleta em que a roda traseira corresponde ao ciclo participativo, e funciona para envolver e encorajar os liderados, fazendo com que estes interiorizem a necessidade de mudança. A roda dianteira, corresponde ao ciclo transformacional, onde suporta as acções de liderança que visam dinamizar o processo e criar condições para gerar transformações e fazer com que os liderados aceitem o processo. Por fim, entre as duas, uma roda dentada, que representa a liderança visionária, transmitindo de forma continuada a energia para que o processo avance, renovando e ampliando a visão para que as pessoas se identifiquem com a mudança.
Uma perspectiva de análise que nos é trazida em estudos realizados sobre círculos de qualidade na Alemanha, quando foi perguntado aos gestores de topo sobre as origens das dificuldades que se colocavam no que respeita à participação dos trabalhadores. De forma inequívoca, apontaram que as resistências advinham da gestão intermédia. Este tipo de respostas verificou-se também em estudos efectuados no Estados Unidos da América, em Espanha e mesmo em Portugal, num survey aplicado em três empresas industriais. No entanto, segundo este mesmo estudo, na Itália como na Dinamarca, as respostas eram completamente opostas. Perante estes dois argumentos antagónicos, por um lado o ponto de vista de que os gestores intermédios constituiriam um obstáculo e por outro, seriam eles os elementos facilitadores da mudança; como explicar então esta contradição?
Uma primeira explicação que pode ser associada, à visão paralisante, é a de que normalmente os processos de mudança trazem consigo alterações ao nível da estrutura hierárquica e os primeiros cuja função é posta em causa, é justamente o nível intermédio. Por isso, para defenderem os seus postos de trabalho, tentam impedir que a mudança se concretize. Uma segunda explicação complementar, encontra-se arreigada à visão tradicional atribuída ao papel deste nível de liderança, ao qual tradicionalmente se associam atributos como: burocratas, controladores, supervisores, filtros entre o topo e a base; enfim, um conjunto de críticas habituais no dia-a-dia das organizações.
A visão tradicional das lideranças intermédias serem consideradas vítimas nas organizações, deve dar lugar à nova visão de verdadeiros executores das estratégias vindas do topo, o que contraria a generalidade das visões tradicionais que enformam os esquemas mentais dos decisores. Os líderes intermédios não são de forma alguma forças de bloqueio mas sim, parceiros estratégicos importantes para concretizar processos de mudança, devendo para o efeito "comprar" as ideias do topo e "vendê-las" à base, como se fora um processo de intermediação.
Convidado da PG em Marketing & Banking Social Media do ISGB e autor do livro "Fusões e Aquisições" recentemente publicado. Coluna mensal à segunda-feira
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