O regresso às origens
Pouco depois de ter começado o campeonato português parece já ter terminado.
É o sinal da pobreza que é a competitividade interna. Portugal não é apenas pobre política e economicamente. Também o é futebolisticamente. Depois de ter atropelado o Benfica já poucos duvidam que o FC Porto será campeão. Encarnados da Luz e de Braga olham agora, apenas, para as competições europeias como forma de minorar os danos colaterais. E, sobretudo, olham-se ao espelho. Com os adeptos em desespero porque a possibilidade de luta pelo título é um sonho remoto, os dirigentes deixam-se de liberalidades. Veja-se o que sucedeu no Benfica. Depois de uma época vitoriosa, que serviu para cicatrizar algumas feridas do passado, o sr. Jorge Jesus teve carta branca para comprar sem olhar para o preço. Foi um regresso ao passado, quando pela Luz passavam toneladas de jogadores.
Saindo duas pedras nucleares da equipa, seria de esperar que as contratações fossem cirúrgicas. Nada disso aconteceu: o sr. Roberto não é tão mau guarda-redes como se supunha, mas é difícil vislumbrar o valor que por ele foi pago; os srs. Éder Luís, Airton, Kardec, Jara, Rodrigo, Fábio Faria e Júlio César ainda estão à espera de um raio de luz que mostre a razão da sua contratação; das contratações do sr. Jesus, só o sr. Gaitán parece ter um lugar no 11.
Ou seja, a política de contratações foi descontrolada e sem lógica. Contratou-se muito, mas com pouco critério. Os resultados estão à vista. O Benfica, esta época, ainda não é uma equipa que entre no campo para vencer. Pior: às vezes entra, como no estádio do Dragão, com medo de perder. Desastre anunciado: os jogadores deixam de confiar no treinador e, a pouco e pouco, nos próprios colegas. Numa equipa que quer sempre vencer isto é o descalabro.
No meio deste disparate táctico, é o treinador que vai sofrer as consequências das decisões irreflectidas. O sr. Luís Filipe Vieira não tem a caixa-forte do Tio Patinhas como reserva sem fim de dinheiro. Não nada, que se saiba, em notas. E quer resultados, porque sem eles os sócios começam a olhar noutras direcções. Com o eclipse do sr. Rui Costa, não é por acaso que o sr. Vieira volta a chamar a si a decisão sobre contratações de jogadores. O período de alforria do sr. Jesus terminou. E não vai voltar. Com as eventuais saídas de jogadores em Janeiro, o Benfica precisará de se concentrar em contratações capazes para a próxima época. Não é difícil adivinhar o que é preciso: um bom central, um extremo-esquerdo e um defesa-esquerdo. E um médio que destrua e construa jogo. Não é muito. É quase tudo.
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