O que querem o PS e a coligação PSD/CDS fazer às pensões
PS, PSD e CDS querem mexer no financiamento do sistema de Segurança Social ao mesmo tempo que garantem a sua sustentabilidade. Conheça as propostas já apresentadas pelos maiores partidos e descubra como.
Se depender do PS, do PSD e do CDS a Segurança Social terá de prescindir de receitas: ou para criar emprego e antecipar rendimentos (PS) ou para abrir o sistema a privados (PSD, CDS). Mas ao mesmo tempo, terá de gerar poupanças que garantam a sua sustentabilidade. O que, de acordo com as mais recentes posições, deverá ser feito à custa do valor das pensões futuras, ou seja, dos futuros rendimentos das pessoas que estão agora em idade activa. A idade da reforma, que teve um dos maiores aumentos na Europa (está agora nos 66 anos) deverá continuar a subir.
Haverá cortes nas pensões em pagamento?
Esta era uma das questões que separava o PS do PSD, mas nas últimas semanas o primeiro-ministro alterou o discurso. Depois de anos a tentar de diversas maneiras fazer cortes nas pensões, que foram por vezes travados por decisões do Constitucional, Passos Coelho passou em período pré-eleitoral a defender que não vale a pena insistir. "Não vou fazer esse tipo de experiências com o Tribunal Constitucional. Não quer, não quer", disse, na Redacção Aberta do Negócios.
O programa eleitoral apresentado esta semana não assume de forma clara o compromisso de não cortar pensões em pagamento, apesar de se concentrar em medidas que poderão ser aplicadas apenas às futuras pensões. Fica por esclarecer como é que o Governo vai conseguir cumprir a poupança de 600 milhões de euros que em Abril o Executivo prometeu a Bruxelas, num documento que segundo a ministra das Finanças assumia como "hipótese teórica" um corte nas pensões em pagamento. Em termos reais, porém, as pensões deverão no mínimo perder poder de compra: tanto o PS como o PSD e o CDS defendem a actualização das pensões mínimas, sendo omissos quanto às restantes.
E nas futuras pensões?
Tudo indica que serão as mais afectadas. As reformas dos últimos anos já reduziram o valor a receber pelas gerações que estão agora no mercado de trabalho: de acordo com um relatório da Comissão Europeia a taxa de substituição bruta vai passar de 57,5% em 2013 para 30,7% em 2060 (sensivelmente o ano em que deverão reformar-se os jovens que estão a entrar no mercado de trabalho). Por outras palavras, quem está agora a entrar no mercado de trabalho pode esperar receber em pensão 30,7% do seu último salário. E as medidas apresentadas pelos maiores partidos vão no sentido de aprofundar as mexidas nas futuras pensões.
Tanto o PS como a coligação PSD e CDS propõem a convergência dos sistemas de pensões da CGA e da Segurança Social, sem explicarem como a vão fazer, o que lhes dá margem para obterem poupanças reduzindo a pensão atribuída aos funcionários que entraram na CGA até 1993, que têm uma fórmula de cálculo mais favorável, que ainda não considera toda a carreira contributiva. O PS prevê a revisão do factor de sustentabilidade, sem explicar como. O PSD quer "reforçar a ligação" entre contribuições e pensões, o que, a avaliar pelas explicações do primeiro-ministro, implica diminuir os benefícios futuros. Na mesma conferência em que recusou negociar cortes nas pensões em pagamento o deputado socialista e ex-ministro da Segurança Social, Vieira da Silva, disse que o PS fará "as correcções" que forem "necessárias" para futuro.
O que muda no financiamento?
Apesar de alertarem para o problema de sustentabilidade da Segurança Social, tanto o PS como o PSD e o CDS revelam vontade de alterar as fontes de financiamento, ainda que isso implique uma redução ou substituição de receita. O PS começou por anunciar a redução em quatro pontos percentuais a contribuição a pagar pelos empregadores que têm pessoas no quadro (que suportam uma taxa de 23,75%), mas umas semanas depois, quando apresentou o programa final, acrescentou que só o fará à medida que as novas receitas de financiamento do sistema se consolidarem.
São elas: o agravamento da taxa contributiva para as empresas com maiores níveis de precariedade, a consignação de IRC (que neste cenário não desce) e um novo imposto sobre heranças superiores a um milhão de euros. Além disso, o PS também defende a redução da taxa a cargo do trabalhador (com futuros efeitos na redução da pensão), como forma de antecipar rendimento. A proposta da coligação PSD e CDS, que apenas reduzem a taxa social única em casos concretos, já habituais nas políticas activas de emprego, é mais estrutural: pretendem avançar com o plafonamento das contribuições e pensões.
O que é o plafonamento?
A
O impacto sobre as receitas da Segurança Social depende do limite que for escolhido, mas tendo em conta os valores que já foram falados, a proposta pode ter fraco impacto a curto prazo (porque os mais jovens não têm salários elevados), grande impacto a médio prazo (quando ainda se perde receita contributiva que não é reflectida em pensões) e impacto nulo a muito longo prazo (quando esta nova geração começar a receber pensões ainda mais baixas da Segurança Social). O PS sempre se opôs ao plafonamento, tal qual ele está inscrito no programa do PSD/CDS.
E acima de que valor é que as contribuições são opcionais?
No programa eleitoral, a coligação não o revela, apesar de o vice-primeiro-ministro já ter dado algumas pistas. Em Maio do ano passado, em entrevista à Rádio Renascença, Paulo Portas referiu o limite de seis salários mínimos (3.030 euros), ideia que atribuiu a Correia de Campos. "Era uma proposta muito equilibrada", disse.
A idade da reforma vai parar de aumentar?
Parece que não. Nem o PS nem o PSD e o CDS mostram muita vontade em revogar as medidas tomadas durante o programa de ajustamento, que fizeram de Portugal um dos países europeus onde a subida da idade da reforma será mais rápida. As projecções da Comissão Europeia revelam que a idade legal de reforma passará para os 66,4 anos em 2020, daí para os 67,7 anos em 2040 e para os 67,7 anos em 2040.
Em cada um destes períodos, Portugal destaca-se por ter das idades da reforma mais elevadas. Por regra, só é ultrapassado pela Grécia, Itália, Holanda e Irlanda. Com as alterações aprovadas na última legislatura, a idade da reforma passou a depender do factor de sustentabilidade, ou seja, da evolução da esperança média de vida. O PS afirma no seu programa que quer rever o factor de sustentabilidade, mas já esclareceu que não vai travar o aumento da idade reforma, até porque a subida já está prevista na lei.
Há outras ideias?
Há imensas ideias. A coligação PSD e CDS promete pensões "parciais" e "graduais". "Será criado um mecanismo que permita moldar o ritmo da reforma pela combinação de soluções de reforma parcial e de reforma gradual - por exemplo,25%, 50% e 75% - introduzindo liberdade de escolha na esfera da decisão individual e colectiva e flexibilidade no mercado de trabalho", diz o documento revelado esta semana. Ao mesmo tempo, a coligação propõe revogar o limite de 70 anos que actualmente leva à aposentação obrigatória pela Segurança Social.
Os dados da Caixa Geral de Aposentações (CGA) indicam que não têm sido muitos os funcionários públicos obrigados a reformar-se por atingirem o limite legal – no ano passado foram 517, de acordo com o último relatório e contas – mas é natural que com o progressivo adiamento da idade da reforma, conjugado com outras alterações, o número aumente.
Há um consenso entre PS e os partidos da actual maioria governativa?
Para já, parece que não. O recuo de Passos Coelho, que garante que desistiu de cortar pensões em pagamento, aproxima o discurso do PSD do do PS, mas o maior partido da oposição mostrou-se contra os princípios de reforma definidos pela coligação. Em reacção à divulgação do programa da coligação, o secretário-geral do PS, António Costa, acusou os partidos que suportam o Governo de "radicalismo ideológico", desconfiou da promessa de deixar cair cortes nas pensões em pagamento e acrescentou que a intenção é a de privatizar a Segurança Social. Esta reacção pode dever-se, em parte, ao facto de a coligação insistir no plafonamento de contribuições e pensões, uma ideia que sempre foi mais cara à direita.
Há uns meses, a maioria acusou o PS de querer fazer algo semelhante a um plafonamento vertical (independente do nível salarial), devido à proposta de reduzir os descontos dos trabalhadores para a Segurança Social, que terá como contrapartida uma futura redução das pensões. O partido liderado por António Costa recusa esta interpretação.
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