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Jorge Ramos
22 de Novembro de 2004 às 13:59

A ameaça do dólar

Não é segredo para ninguém que o recém reeleito G. W. Bush não é decerto, o mais popular presidente americano deste lado do Atlântico.

Contudo, é com a sua administração que o Velho Continente vai ter de conviver nos próximos 4 anos e, como acreditamos que não deverá haver grandes alterações nas políticas económicas em terras do Tio Sam, o melhor a fazer na Europa é procurar adaptar-se ou seja, maximizando o que de positivo possam trazer para o seu crescimento e minorando os seus malefícios.

Do lado positivo, continuamos a ver uma Administração Bush fortemente apostada na concretização de políticas expansionistas: a consolidação do «choque fiscal»; fortes investimentos na área militar e da segurança interna e externa; aposta continuada no «free trade», rejeição do proteccionismo e promoção do conceito tão caro aos republicanos de «ownership society» que, de forma aproximada, podiamos chamar de «capitalismo popular» ou seja, fazer de cada americano um accionista.

Isto porque esta Administração entende que, a melhor maneira de resolver o problema dos «défices gémeos» (défice público e défice da balança de transacções correntes) é actuar sobre o denominador, a saber, promover um forte crescimento económico que possa financiar a «economia de guerra» e o voraz apetite consumista dos americanos. Ora sendo a Europa, o maior bloco económico exportador do mundo (1,1 triliões de dólares em 2003 ou 14,7% do mercado mundial), um forte crescimento da maior economia importadora do mundo (1,3 triliões de dólares em 2003 ou 16,8% do comércio internacional) não pode deixar de ser uma boa notícia.

Contudo há um espinho cravado nesta estratégia: a continuada apreciação do Euro contra o dólar que corre o risco de constituir um forte travão à recuperação económica europeia. E é preocupante o «laissez faire» da actual Administração norte-americana que, se por um lado reafirma publicamente a sua política de um dólar forte (v.e. das recentes declarações do secretário Snow), por outro lado afirma que deve ser o mercado a estabelecer a sua cotação o que, para os especuladores significa rédea solta.

Neste capítulo o que resta à Europa fazer? Uma de duas coisas. Uma solução de curto prazo seria uma intervenção cambial maciça, de forma a mostrar um «cartão amarelo» aos especuladores e sinalizar um nível, a partir do qual, podem contar com um BCE vigilante e activo, pois já se viu que as sucessivas declarações de Mr. Trichet não chegam para assustar o mercado. Contudo, o passado diz-nos que esta solução é normalmente dispendiosa (esgotando as reservas em dólares do BCE) e de efeitos questionáveis, sobretudo se não for feita de forma concertada com a Reserva Federal americana que, até à data, não deu ainda inequívocos sinais de desconforto.

A solução de médio prazo é mais difícil de aceitar e passa pela adesão da Europa ao clube dos grandes financiadores do défice americano, a saber, as economias asiáticas que constituem hoje, em conjunto com os EUA e México, uma Grande Zona Dólar. Ou seja, exigir ao BCE e às empresas europeias, o investimento das suas reservas e poupanças em activos americanos, contribuindo assim para uma maior procura de dólares a nível mundial. Só que, depois da má experiência dos anos 90 é difícil às empresas europeias embarcarem numa onda maciça de aquisições nos EUA. Por outro lado, no actual estado das relações políticas e económicas entre os dois lados do Atlântico, esta seria uma pílula de muito difícil digestão.

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