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Jorge Ramos
06 de Junho de 2005 às 13:59

«Sell in May and go away»

Diz o velho adágio de Wall Street – «Sell in May and go away», mas parece que também para os mercados, a tradição já não é o que era.

Com efeito, destacamos o comportamento das bolsas durante o último mês, com a melhor performance desde o início do ano e os principais índices muito perto dos máximos do corrente ano. Para tal bastou uma conjugação de factores que coloca a questão de saber como dados, à primeira vista negativos, mereceram uma segunda leitura positiva pelos investidores.

Senão vejamos: o «rally» deu-se em primeiro lugar, pela queda do preço do petróleo para baixo dos 50 dólares e embora, na última semana, os preços voltassem a subir, parece haver agora maior tolerância face a este factor. E isto porque, entretanto, os dados macroeconómicos nos EUA e nas principais economias mundiais, apontam claramente para um abrandamento generalizado que, apesar de traduzir uma clara deterioração da conjuntura, foi lido pelo mercado como indiciador do fim próximo do ciclo de subida de taxas de juro iniciado por Mr. Greenspan na sua cruzada anti-inflação. Ou pelo menos, é isso que está agora na volátil mente dos investidores.

Notável é a velocidade a que se invertem as expectativas: há pouco mais de um mês os investidores liam à lupa as entrelinhas do discurso do FED e descortinavam preocupantes sinais de uma subida mais acentuada das taxas, face aos receios de inflação; as obrigações a 10 anos descontavam esse cenário com a «yield» nos 4,6%. Hoje a mesma «yield» está nos 3,9%, a inflação voltou a ser um espectro guardado dentro do armário e apesar da forte deterioração dos fundamentais económicos os mercados de acções acompanharam com forte vigor o «rally» das obrigações.

Ou seja, mudanças desta magnitude nas expectativas obrigam a uma forte mobilidade e versatilidade do «asset allocation», corroborando a nossa ideia que a globalização das economias, empresas e mercados veio certamente encurtar os ciclos económicos, ou pelo menos, diminuir o tempo de acção/reacção da parte dos agentes. Hoje, as verdades e certezas sobre a performance esperada dos mercados são cada vez mais relativas e a gestão de carteiras, ou se adapta a este novo ambiente, ou corre sérios riscos de não conseguir dar uma adequada resposta às rápidas alterações do ciclo.

Temos para nós que a performance dos mercados nas últimas semanas não dá por adquirida uma resolução pela positiva, das principais incertezas que pendem sobre a economia mundial. Já vimos que o que é verdade hoje, pode não o ser amanhã e que rapidamente o céu limpo dá lugar à borrasca e a fortes tempestades. Mas para já os fantasmas – a inflação, os défices gémeos americanos, a sobrevalorização do euro, o terrorismo, etc. – foram esconjurados e voltaram ao armário. Que por lá fiquem muito tempo.

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