Crónica de uma queda anunciada
Já aqui havíamos dito que os mercados estavam a menosprezar um conjunto de indicadores e factos económicos cuja conjugação, podia trazê-los, de forma repentina, a um violento «back to reality».
Um destes indicadores era, sem dúvida, a forte subida do petróleo que, durante a semana passada, atingiu novo máximo histórico nos 58 USD, sujeito a forte especulação, depois de algumas casas terem vindo dizer que a escalada do preço estava longe de estar terminada, avançando até com cenários de preços de 100 USD.
Depois, as sucessivas revisões em baixa das estimativas de crescimento económico mundial, feitas por insuspeitas organizações internacionais (BCE, FMI, etc.) para os principais blocos económicos, com especial incidência na Zona Euro e nas mais importantes economias do Sudeste Asiático. A Europa do euro não deverá crescer mais de 1,6% e, com estas taxas, nem pensar em assistirmos a um crescimento sustentado do emprego, por forma a poder dinamizar a fraca procura interna. Quanto à Zona Ásia, o Japão e congéneres, parecem estar também em desaceleração e, mesmo a China, dá mostras de um «soft landing», apesar de um invejável crescimento de 8,5% previsto para este ano.
Mas eis que se iniciou, nos últimos dias, a nova «earnings season» e aí, com as empresas a dizerem no plano micro o que a macroeconomia já evidenciava há semanas, foi um «ver se te avias». A tónica geral é mais ou menos a mesma: General Motors com mais um dos seus costumeiros «profit warnigs»; IBM com resultados abaixo das estimativas; Apple que bateu o mercado mas não as expectativas mais optimistas; Sun aquém do esperado e uma profusão diária de rumores e «diz-que-diz» no mercado, sobre a eventualidade de novas desilusões de outros «Big Caps».
Nos EUA, a sangria foi completa, num autêntico «mini crash» repartido nos últimos 3 dias: o Dow Jones caiu mais de 400 pontos e o Nasdaq mais de 5%. Com uma novidade: à excepção de alguns sectores defensivos cuja subvalorização já aqui tínhamos mencionado (nomeadamente as farmacêuticas), desta vez o contágio foi geral: da Tecnologia às Matérias Primas; da Energia às Industriais, a queda foi geral e porquê? É simples, num cenário de abrandamento económico geral, não há grandes refúgios, sobretudo quando o mercado entende corrigir em muito pouco tempo, aquilo que deveria ter vindo a ser descontado nos últimos meses.
Em suma, uma semana para esquecer. Só nos resta um consolo: a queda das acções foi de tal forma violenta que acreditamos que o doloroso xarope já foi, em grande medida, tomado pelo doente e, provavelmente, já existem boas oportunidades de entrada. Até porque já vimos disto muitas vezes e apesar das incertezas sobre o Mundo... este, decididamente, não vai acabar.
Mais lidas